Por Renato Rovai
O país entrou num túnel escuro e não se sabe como sairá lá na frente. Há dezenas de possibilidades. Listo na sequência seis deles.
É fundamental nas análises a serem feitas considerar que não será com a derrota ou a vitória do impeachment que tudo vai ficar melhor ou pior no país.
Aqueles que são contra o impeachment e o consideram golpe devem levar em conta que um novo governo pode criar um clima favorável e melhorar em médio prazo as condições econômicas do pais. E isso lhe garantiria legitimidade.
Os que são a favor, deveriam saber que mesmo se Dilma vier a ser deposta isso não é garantia de um futuro melhor. As chances de o Brasil ficar pior são consideráveis e não deveriam ser desprezadas.
Os cenários que apresento como positivos ou negativos não têm relação com a minha opinião deste processo, mas com o que pode acontecer trabalhando as hipóteses que estão sobre a mesa.
Cenários |
Descrição dos prognósticos |
Alternativa 1 |
Sem impeachment |
Cenário positivo |
Dilma consegue numa operação milagrosa de Lula salvar seu mandato ainda na comissão que vai avaliar o processo do impeachment. Os partidos de oposição protestam, o clima esquenta, mas o calendário das eleições municipais muda a agenda da política e a economia volta a reaquecer aos poucos. Lula, na Casa Civil, consegue reconstruir pontes com o empresariado e parte do mercado, o STF dá normalidade à Lava Jato e a oposição não sai do discurso do impeachment, mas perde apoio no Congresso e base popular nas manifestações. O clima pesado e quente continua até 2018, mas se preserva a normalidade democrática. |
Cenário regular |
O governo consegue derrubar o impeachment no plenário da Câmara por uma diferença de uns 20 a 30 votos, a oposição não aceita a derrota, toma as ruas e o clima chega perto do insuportável, mas reflui com o tempo e Dilma consegue seguir na presidência. Sérgio Moro continua operando a Lava Jato num ritmo frenético e seletivo e vários petistas são presos. Ao final do seu mandato, Dilma entrega o país com baixa popularidade, com o PT praticamente destruído, mas há eleições presidenciais e a democracia segue aos trancos e barrancos. |
Cenário Negativo |
O governo se salva do impeachment por decisão apertadíssima e o país vira um inferno. Sindicatos são invadidos, sedes do PT destruídas, políticos de esquerda passam a ser perseguidos e as Forças Armadas entram em campo. Na esteira dessa imensa barafunda, Moro acelera a Lava Jato e se torna a grande esperança nacional. Uma intervenção civil- militar é realizada e Dilma é deposta num golpe que não passa pelo Congresso. O país volta a ter uma noite escura e sem perspectiva. Claro que ainda há outros muitos cenários a explorar. Mas o que está ficando cada vez mais óbvio é que não há grandes chances de as coisas melhorarem sem algum diálogo. Sem que todos os limites da lei sejam respeitados. |
Alternativa 2 |
Com impeachment |
O vice-presidente Michel Temer assume em meio a grandes turbulências, com manifestações de rua denunciando o golpe e algumas greves e ocupações, mas consegue com apoio midiático e uma base forte no Congresso, dar um rumo liberal para o governo, o que reativa a economia e dá fôlego para o país construir uma agenda onde a privatização de algumas empresas públicas permite fazer caixa e melhorar as contas públicas. Ao mesmo tempo, Temer nomeia um ministro da Justiça que acalma o MPF e a PF e a Lava Jato deixa o noticiário como se nunca tivesse acontecido, restando apenas presos os petistas que não fizeram delação. Mesmo assim o país se arrasta na economia e as ruas permanecem em pé de guerra. |
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Cenário regular |
Temer assume em meio a uma situação limite, com pessoas se agredindo nas ruas e tendo de colocar o Exército e as polícias de prontidão. Sindicatos são ocupados, lideranças sociais são presas, há denúncias internacionais de que o Brasil viveu um golpe, mas com apoio midiático e maioria no Congresso, consegue seguir na presidência de forma claudicante. Nos dois anos e meio que lhe restarão, implementa uma agenda liberal, mas não consegue tirar o país da crise. Mesmo assim controla a Lava Jato, faz uma reforma da previdência e abre a exploração do Pré-Sal para empresas estrangeiras. Seu governo é um desastre, mas chega ao fim e deixa o país sem saber o que vai ser o dia seguinte. |
Cenário negativo |
Temer assume e o país pega fogo. Estradas são fechadas, prédios públicos ocupados, há conflitos nas ruas, sindicatos e sedes do PT são incendiadas, pessoas passam a ser perseguidas, as Forças Armadas são acionadas e a narrativa de que o Brasil viveu um golpe de Estado se consolida internacionalmente. Com as dificuldades do governo, o juiz Sérgio Moro aproveita para continuar as investigações da Lava Jato e consegue provas que tornam Temer, Renan, Cunha, Aécio e outros como réu. O PT tem seu registro cassado e Lula preso. O Brasil entra em colapso e seu PIB desaba, fazendo com que se construa uma intervenção civil-militar que promete entregar o país normalizado para uma nova eleição que ninguém mais sabe se de fato virá. |
Revista Fórum [http://bit.ly/1SfZJkD]: 21/3/16.
Renato Rovai. Jornalista. É professor da Faculdade Cásper Libero.
Imagem: Reprodução / Rede Brasil Atual