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Dizia Goethe: “Peçam-me para ser honesto, mas não imparcial”. As primeiras investidas do Ministério Público Federal por intermédio da dupla Polícia Federal – Defensoria Pública, concentram-se claramente no governo e no PT. A esquerda denunciou parcialidade, e com razão, apesar das ações se estenderem ao PMDB, PP e outros partidos então aliados ao PT. Mais recentemente as ações veem se propagando progressiva, porém parcimoniosamente aos demais partidos, ou melhor, à direita, embora os alvos privilegiados continuem sendo os partidos e ativistas de esquerda. Somente os obtusos e mal-intencionados não percebem, ou melhor, não reconhecem essa parcialidade. Mas seria esta condição suficiente para condenar o Juiz Moro e a Lava-Jato?

O que as investidas da Polícia Federal e do Ministério Público revelaram, senão para os poderosos, que, de tudo sabiam ou mesmo participavam, pelo menos para a sociedade civil, foi que a corrupção e o parasitarismo público alcançou níveis tão tragicamente elevados que não apenas são hoje práticas quase universais como também ameaçam tornar-se institucionalizadas. Ou seja, em breve a propina passa a ser um direito do político e não uma transgressão. Os transgressores passam a ser aqueles poucos, se é que ainda existirão, que rejeitarem a propina. E a perversão aos poucos passa a ser explícita, institucionalizada. Como já é uma outra forma de corrupção institucionalizada, tradicional no Brasil, a distribuição de cargos a aliados, parentes e afiliados. Nos países escandinavos, que também como o Brasil adotam um sistema compartilhado de ministérios, ministros têm o direito a uma única indicação, uma espécie de conselheiro político, sendo inclusive o seu secretário executivo um funcionário de carreira, irremovível, como todos os demais. Aqui a avidez por cargos para correligionários é manifesta e foi confirmada quando Serra, tendo Fernando Henrique sido eleito em sua primeira postulação, responde impudentemente à pergunta de um repórter quanto à governabilidade: “Ora, temos 20.000 cargos para distribuir”, diz o impoluto futuro ministro imitando Maluf. Petrolão, Mensalões, têm a mesma origem e justificativa. Nascem da mesma razão ética, ou melhor, antiética, “os fins justificam os meios”.

Pois bem, a Lava-Jato e seus precursores tiveram, por outro lado, o grande êxito de desvendar a vastidão da corrupção atual do sistema político nacional. E eis que o feitiço se torna contra o feiticeiro. A máquina infernal criada pela direita se volta inexoravelmente contra sua criadora, como na fábula universal da jovem Mary Shelley, faz o Monstro de Frankenstein. Apavorados, os caciques do PMDB e do PSDB procuram agora aniquilar sua criatura. A refrega será letal. Esperamos apenas que se liquidem mutuamente, como no final do romance de Mary Shelley. E que o Brasil saia dessa contenda, senão livre, pelo menos aliviado dessa infestação de políticos corruptos.

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