Em Análises e Reflexões, Destaques

Apresentação do físico Rogério Cerqueira Leite sobre a atual conjuntura político-econômica brasileira realizada na sede nacional do Partido dos Trabalhadores (PT),  na sexta-feira (24/03), a convite do ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva. 

São setenta e sete executivos delatores da Odebrecht. Será que haveria algum executivo nesta empresa que não estivesse envolvido em propinas? Por outro lado, são 220 os políticos envolvidos, ou melhor, beneficiários de propinas. Esta é a segunda lista da Odebrecht. Outras empreiteiras, OAS, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão etc. etc. além de empresas de várias outras naturezas ainda estão para desovar.

O conceito clássico de corrupção é de uma atividade furtiva, secreta, executada por um único indivíduo em cada ponta, um corruptor e um corrompido, no escuro, se possível. Ora, uma operação que envolve setenta e sete operadores de um lado e 200 e tantos de outro e que segundo o patriarca Odebrecht perdura há pelo menos 30 anos, não pode ter sido sigiloso. Aliás, historiadores reconhecem que esta prática é endêmica no Brasil desde Cabral. Podemos mesmo concluir que é parte constituinte de uma verdadeira cultura e que esta se estendia a grande parte da sociedade brasileira. É difícil acreditar que um único congressista ignorasse esse estado anômalo. Quem não estivesse recebendo, se é que existiria alguém, estaria esperando a sua vez. E, a julgar pelas dimensões dos repasses e números de beneficiários, provavelmente alguns nem tivessem a consciência de que estariam praticando um crime. Era a regra do jogo. E isto é o que torna a situação trágica. Não apenas pelo nível de corrupção, mas antes pela sua institucionalização. Sempre que um desvio do comportamento ético chega a estes extremos, a natureza reage com toda a violência. Na sociedade dos homens surgem então essas figuras messiânicas que encabeçam movimentos reivindicantes. O surgimento de uma Lava Jato era, pois, inexorável. Se não tivesse ocorrido em Curitiba, teria sido em outro lugar. E outra liderança iluminada, para não dizer fanática, se apoderaria da insurreição. E quase sempre esses movimentos revanchistas incluem distorções. Desta vez, o que é lamentável é a inclinação elitista de sua liderança e o desinteresse acintoso pelo interesse nacional.

Empresas estatais, tais como a Petrobras, e privadas estão sendo liquidadas. Programas essenciais para a indústria nacional, tais como a produção de plataformas marítimas, estão sendo interrompidos. Esquece-se que até mesmo as empresas que sediaram a corrupção, as empreiteiras, contribuem para a riqueza nacional. Penalizá-las é uma vingança infantil, para não dizer simplesmente burra. O Brasil age como o mocinho “cowboy” que mata por vingança o cavalo do inimigo e como consequência morre de fome e sede por ter ficado a pé no deserto.

Pois bem, os castigados não são apenas os executivos das empreiteiras, os políticos e lobistas, mas antes de tudo o povo brasileiro, com a economia paralisada, o trabalhador desempregado, o país sem rumo. É preciso, pois, encontrar meios para que o remédio excessivo mate apenas a doença e não o paciente.

Imagem: Arquivo RCCL

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