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Na comemoração do 35º. aniversário de fundação do PT, em Belo Horizonte (MG), Lula teve que enfrentar o espinhoso tema do ajuste fiscal que o Governo Rousseff  escolheu implementar. 

Lula optou por comparar a dureza do ajuste com o tratamento quimioterápico:  “Eu converso com muita gente, e às vezes vejo as pessoas fazerem críticas de algumas medidas que a Dilma tomou logo no primeiro dia do 2º mandato”, disse.  Segundo Lula, ele próprio precisou tomar medidas “duras” e aprendeu uma lição: “Não teve nada pior e mais grave na minha vida do que  33 sessões de radioterapia na minha garganta. Vocês não imaginam o que é. E eu tomava, era disciplinado e fazia porque era necessário”, declarou.

 “Dilma teve que tomar algumas medidas que eram necessárias e que vocês vão ter que tomar na vida de vocês – medidas que nem sempre são aquilo que vocês querem. Mas vocês têm que pensar que, de vez em quando, a gente tem que parar, tomar fôlego e seguir a caminhada. […]. Faça o que tiver que fazer, porque um erro desastroso nosso quem vai sofrer não somos nós [e sim] o povo humilde que nem está aqui”, completou. 

Se o ajuste fiscal ofuscou a festa petista, o deputado Eduardo Cunha, o novo presidente da Câmara dos Deputados, também contribuiu para jogar mais água no chopp do Partido dos Trabalhadores: 

(1) instalou a Comissão da Reforma Política, na Câmara dos Deputados, para analisar uma PEC que já fora rejeitada pelos petistas (pois não propõe alteração no financiamento de empresas para campanha eleitoral); 

(2) autorizou a criação de nova CPI da Petrobras, determinando que esta comissão será composta seguindo o critério de proporcionalidade dos blocos formados em 1º de fevereiro (uma decisão que poderá prejudicar o partido majoritário, o PT): Bloco do PMDB=11 deputados; Bloco do PT – 8 deputados; Bloco do PSDB – 6 deputados; PDT e PSOL – 1 deputado para cada legenda; 

(3) pautou imediatamente a votação do projeto de maior interesse dos deputados : o do orçamento impositivo; e, 

(4) quer votar o projeto que prorroga (de 70 para 75 anos) o teto para a aposentadoria de juízes, assim restringindo a possibilidade da Presidente alterar a composição atual do STF.  

A Justiça, a Promotoria e a Polícia Federal, no âmbito da Operação Lava-Jato, também estragaram a festa, com prisões, apreensões, coerções e interrogatórios que atingiram fornecedores da Petrobras e o Tesoureiro do PT.

Todo este processo constrangeu Dilma Rousseff a mudar a diretoria da empresa petrolífera, mas a dúvida é se o drama da Petrobras poderá se resolver com a simples troca do capitão do navio à deriva, e se o caso não acabará por arrastar a própria presidenta da República, não por acusações de corrupção, mas sim pela responsabilidade que exercia e exerce sobre a empresa. 

Como o Brasil saiu das urnas de Outubro partido ao meio, a crise política dos dias de hoje é capitalizada pela mídia (majoritariamente oposicionista), que busca intensificar o legado eleitoral de 2014, operando como moenda a tentar destruir o apoio que o Governo mantinha junto à parcela majoritária da opinião pública. 

Pesquisa Datafolha, de 2 e 3/2/15, aponta para uma tendência ao aumento do pessimismo no País: “Apenas três meses e meio depois do segundo turno, o país assiste à mais rápida e profunda deterioração política desde o governo Collor. […]. A conjuntura sombria resulta da confluência do escândalo da Petrobras com a acentuada piora das expectativas sobre a economia

Nesse campo, parece que a consideração de vários analistas de que quando a economia vai bem nada abala o governo parece se confirmar, pois a partir das medidas adotadas no primeiro mês do novo governo, grande parcela da sociedade (à exceção o setor financeiro) começa a sentir que 2015 não será um ano fácil, o que amplifica a avaliação negativa sobre o governo.

Além disso, afetam as expectativas dos agentes econômicos o noticiário diário sobre escassez de energia e a iminência de um racionamento de água no estado de São Paulo (principal polo econômico do País).

O pessimismo dos entrevistados se agrava pelo contraste entre a realidade e a imagem rósea pintada nas campanhas eleitorais do ano passado.

A presidenta da República recebe o pior golpe, com uma inversão total nas opiniões sobre seu governo. Em dezembro passado, Dilma tinha 42% de ótimo/bom e 24% de ruim/péssimo. Agora, marca respectivamente 23% e 44%”. (UOL, 7/2/15). 

Sitiado, o Governo tem assumido comportamento reativo, incapaz de organizar a agenda política nacional, onde o movimento pelo impeachment ganha força com manifestações marcadas para 15/03. É preciso superar esta condição, pois só assim o Governo  efetivamente governará. 


Créditos de imagem: smabc.org.br

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