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Por Eric Nepomuceno

Apesar de tudo parecer imprevisível no atual e muito turbulento cenário político brasileiro, uma coisa se pode prever: dificilmente essa situação se arrastará por muito tempo mais. Dilma Rousseff iniciou seu segundo mandato há escassos sete meses, e seu governo se manteve acossado desde o primeiro dia. Com isso, o país vive, perplexo, um quadro de paralisia e profundas incertezas.

Quase todas as iniciativas do Poder Executivo são bombardeadas por um Congresso que não apenas é rebelde como, em muitas ocasiões, parece disposto a assumir decisões claramente irresponsáveis, que não fazem mais que ameaçar um já complexo panorama econômico, enquanto promove o desgaste cotidiano de uma mandatária cujo capital político parece diminuir a cada passo não dado.

A aliança de partidos que teoricamente dariam a Dilma as ferramentas suficientes para assegurar um clima de governabilidade se mostra cada vez mais fora de controle.

Cresce a sensação de vazio de poder e de ausência de liderança, enquanto aumenta o volume das vozes que pedem simples e diretamente que ela abandone o cargo ou seja catapultada para bem longe do gabinete presidencial.

A oposição, por sua vez, navega alegremente no mar do mais puro oportunismo. Já não se trata de propor alternativas às propostas e projetos do governo – coisa, aliás, que essa oposição nunca fez. Agora, o que se vê são disputas internas para decidir qual a modalidade mais conveniente para tirar proveito da crise em benefício próprio. Ou seja: o PSDB se divide entre os arroubos de um playboy provinciano e a aparente songamonguice de um governador ambicioso. Um defende um golpe parlamentar. O outro prefere sangrar o PT e Dilma dia a dia, até 2018. Enquanto isso, o país que se dane.

Ao mesmo tempo – e aí está o aspecto mais angustiante dessa crise –, o governo se encontra virtualmente paralisado, sem conseguir estabelecer uma interlocução sólida e verdadeira com o Congresso, com os supostos aliados, com ninguém.

Os movimentos sociais que sempre funcionaram como base de apoio ao PT estão sem diretrizes e sem saber o que fazer. 

Para piorar ainda mais um cenário assustador, falta, ao governo, uma política de comunicação que seja capaz de ao menos suavizar a impiedosa campanha difamatória levada a cabo pelos grandes meios hegemônicos.

Tendo à sua volta uma vastidão de ministros que são, no fundo, um gordo amontoado de mediocridades, Dilma Rousseff carece de governabilidade.

Não são poucos os que acreditam que a única coisa que continua sustentando seu mandato é o temor dos efeitos que uma saída mais abrupta teria nas ruas, na economia e, enfim, na própria política.

Diante desse quadro cada vez mais preocupante, Dilma Rousseff continua inerte. Uma excepcional reação surgiu dia desses, quando recordou o óbvio: os votos de outubro asseguram sua legitimidade, e ela assegurou que irá honrar cada um desses votos.

O problema é saber se com esse ministério e com esse núcleo político que escolheu ainda há como encontrar uma saída. Não se viu e não se vê uma estratégia minimamente sólida e viável. O único que mantém certa – certa – capacidade de articulação é Michel Temer. Até que ponto?

Diante da determinação iracunda de Eduardo Cunha de provocar o caos a qualquer preço, a reação do governo tem se mostrado esfarelada. Reuniões são convocadas para resultado algum. E enquanto isso, as iniciativas de Cunha e de um Congresso que é o de pior nível desde a retomada da democracia provocam efeitos desastrosos, ao aprofundar ainda mais a crise política e criar, se é que isso é possível, mais instabilidade, tensão e incertezas no cenário econômico.

O acosso desleal e o jogo sujo e pesado dos meios de comunicação continuam imunes, já que não há defesa ou revide.

Correndo em raia paralela, continua o galope de uma Polícia Federal, de procuradores e funcionários do Ministério Público, além da justiça de primeira instância, unidos no espetáculo do combate – muito seletivo, é evidente – a uma corrupção que é endêmica e histórica, mas que parece ter sido inaugurada ontem. Quanto mais espetacular é a ação policial, quanto mais cresce a filtragem ilegal de informações, quanto mais amplo o conluio entre funcionários públicos e meios selecionados de comunicação, mais desgaste para o governo, para o PT e, claro, para o alvo primordial disso tudo, Lula.

Diante desse quadro, qual a saída à vista? Quanto tempo Dilma ainda dispõe para reagir? 

Às vezes, prevalece a sensação de que já não se trata de tentar enxergar alguma luz no fundo do túnel: se trata de saber se ainda existe túnel…

Publicado na Carta Maior: 09/08/2015.

Eric Nepomuceno. Jornalista e Escritor.


Imagem: absintopuro.blogspot.com

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