Em Conjuntura Internacional, Destaques

Parece oportuno tornar mais clara, para o eventual leitor, a preocupação expressa na coluna anterior, quanto a quem poderá estar no comando de EUA e China, no final de 2017. O exercício de futurologia política assim aberto procura antecipar o quadro de governantes que darão corpo à rivalidade sino-americana, no lustro 2018-2022. A justificativa para tal interesse é a expectativa, generalizada, de que os cinco anos em causa marcarão a chegada da China ao status de superpotência, alternativa aos EUA na direção do mundo. Tentarei visualizar, aqui, possíveis desdobramentos nos dois países.

 Num abrangente artigo em The Economist (08.10.16), Barack Obama acaba de repisar sua tese de que para elevar a produtividade e os salários na economia americana é necessário continuarem os EUA a escrever as regras do comércio global, isolando a China. Em termos concretos, isso torna imprescindível a ratificação no Congresso americano de pactos como a Parceria TransPacífica (PTP) e a Parceria Transatlântica para Comércio e Investimento (PTCI), negociada com a União Europeia. Aspiração cada vez mais inalcançável, haja vista a maneira como evolui a campanha presidencial, com os dois candidatos se opondo aos grandes acordos de comércio internacional que Obama levou anos para pôr de pé. Não há um debate político sério em torno dos problemas reais do país, com o resultado que o vencedor do pleito tomará posse sem mandato claro para fazer face ao desafio que estará levantando a China. Em alguns   aspectos haverá mesmo dificuldade em preencher vácuos legados por Barack Obama, como no caso da PTP, cujo abandono afetará fundo a credibilidade dos EUA na Ásia.

O brasileiro Otaviano Canuto, Diretor Executivo no Banco Mundial, em artigo no Valor Econômico (22.10.16), chama a atenção para a queda repetida no crescimento do comércio internacional desde 2012, como mostram as estatísticas da OMC. Acabam por exemplo de prever, para este ano, um crescimento do PIB global maior do que o do comércio exterior, pela primeira vez em quinze anos. A mesma tendência é registrada pelo último Panorama Econômico Mundial, do FMI: taxa média de 6,6% de crescimento em termos reais, no período 1960-2005; contra apenas uma taxa média em termos reais de 3,4%, entre 2008-2015. Para o FMI (cf. artigo de Martin Wolf; Valor, 26.10.16): “a fragilidade do crescimento dos valores do comércio internacional é, em grande medida, resultado da desaceleração econômica sincronizada vivida pelas economias avançadas e emergentes.” É também resultado de dois outros fatores de importância crescente: “o protecionismo e a paralisação da tendência de mais longo prazo, em rumo à intensificação do comércio dentro das ‘cadeias de valor’.” Indo além das considerações do FMI, Canuto dá ênfase à ação de fatores estruturantes na perda de dinamismo do comércio internacional.  Como o platô a que chegou a expansão das cadeias mundiais de valor; ou o ponto de inflexão no processo de transformação estrutural da China. Como quer que seja, a liberalização comercial recua e avança o protecionismo, dentro da premissa de que basta levantar barreiras à entrada de mercadorias estrangeras para que a indústria do país se recupere e reapareçam os empregos.

Assim pois, qualquer seja o novo Presidente dos EUA, chegará ao posto rendido ao protecionismo; comprometido com restringir o comércio internacional; mas tendo,    positivamente,  de situar-se em meio à batalha “tecno-otimistas” vs “tecno-pessimistas” que lavraria nos EUA, segundo The Economist (22.10.16), na sua coluna Schumpeter. O principal argumento dos pessimistas tem a ver com a própria estrutura do capitalismo. As empresas já não pertencem a empreendedores enérgicos; seus donos são instituições gigantes, que dão mais valor a retornos previsíveis, negligenciando antigas preocupações como o aumento da produtividade. Mas é nesse quadro que os otimistas pensam descobrir um grupo de empresas criadoras, as quais vão destilando elementos positivos capazes de constituir-se em mandato para o novo Presidente. Este terminaria, então, por poder posicionar-se diante dos chineses, os quais estariam todo esse tempo negociando na cúpula do PCC, com vistas à renovação do Birô Político e seu Comitê Permanente, a ser finalizada no XIX Congresso Nacional do partido, em fins de 2017. Agora em fins de outubro realizou-se uma reunião de 350 membros do partido e dos altos círculos sociais, que se repete a cada outono. Xi Jinping aproveitou para detalhar suas expectativas quanto às novas composições no topo do partido. Especulações surgidas em torno da reunião têm falado em que ele poderia desrespeitar o  limite de idade (68 anos) para a aposentadoria dos membros do Comitê Permanente

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