Recentemente foi o mundo da arte surpreendido tanto pelo fato de que a renda anual em leilões de arte na China havia suplantado aquela nos EUA, como também que o preço (US$65 milhões) de um quadro do pintor contemporâneo chinês Qi Baishi havia superado os valores obtidos por qualquer de seus congêneres ocidentais, Cézanne, Picasso, etc. Todavia, o mais notável acontecimento foi a escalada exponencial dos valores de objetos em Bronze.
O apogeu do Bronze na China ocorreu ainda durante a dinastia Shang (1766 – 1122 AC). Especialistas afirmam que até hoje a tecnologia de fundição do Bronze se alcançou não ultrapassou a qualidade daqueles da época Shang. A Fig. 1 mostra uma vasilha cerimonial (para armazenar vinho?) denominada Yu (You), sugerindo uma coruja. Imperadores doariam estes objetos a seus generais mais bem sucedidos. Eram troféus que, inclusive, acompanhavam seus proprietários em seus túmulos.
A Fig. 2 mostra um Tin, peça também cerimonial do período dos Estados Guerreiros (475 – 221 AC). Apesar de sua elegância já se pode perceber o início do declínio da importância atribuída a objetos de Bronze, pois é uma peça muito menos elaborada que a precedente.
O período seguinte, dinastia Han, durará quatro séculos, até 220 DC, e verá um franco desinteresse pelo Bronze. A Fig. 3 mostra um incensório desse período. Nele, como nos poucos exemplos de objetos em Bronze do período, fica clara a economia de material, o que fez muitos historiadores considerarem a hipótese de escassez do cobre ou do estanho. Todavia, alguns séculos depois voltaram a abundar artefatos de Bronze de grandes dimensões.
A partir da dinastia Tang (618 – 907 DC) até nossos dias, entretanto, a produção de bronzes foi marcada por um fenômeno eminentemente chinês, o movimento arcaizante. E desde então são muito raros os exemplos em que não haja uma extensa imitação das obras anteriores à dinastia Han. A Fig. 4 mostra um pequeno vaso da dinastia Ming (1368 – 1644 DC) recoberta em toda sua superfície por adornos tradicionais da dinastia Shang. Apenas os pegadores em forma de cabeça de elefante sugerem a sua real idade.
Caso ainda mais flagrante de arcaísmo é o vaso da Fig. 5, proveniente da dinastia Qin (1644 – 1911), em que sua principal decoração é o Tao Tie, máscara monstruosa que se origina no neolítico e foi adotada no Bronze da dinastia Shang.
Essa tendência arcaizante, que domina não somente o Bronze, mas todas as formas de arte na China, deriva, certamente, da veneração dedicada aos antepassados e a sua própria história, que é um traço mais cultural que religioso do povo chinês. E sob este aspecto a civilização chinesa se distancia de todas as demais.
Fotos: Bernardo Aguiar de Souza Penha, a partir de objetos da coleção particular do autor.