Por Enio Squeff
Beethoven dizia que, enquanto tivessem cerveja e salsicha, os austríacos jamais fariam qualquer revolução. Mude-se a cerveja pela cachaça e a salsicha pelo torresmo ou por qualquer outro pitéu – a sentença talvez valha em alguma coisa para o Brasil. Aqui também é difícil pensar em uma reação mais séria à usurpação do poder por alguns partidos políticos, com a decisiva colaboração do Judiciário (que cisca cisca mas não tem coragem de prender o mais que notório Eduardo Cunha) e, convenhamos, da mídia, só que com plena aquiescência dos militares. Esse talvez o busílis da questão. Fala-se abertamente num projeto de lei que visa a entregar todas as pesquisas nucleares, não ao Estado brasileiro, mas a uma multinacional qualquer (o qualquer pode perfeitamente ser substituído pelos Estados Unidos – ou alguém duvida que será a multinacional não ligada aos interesses estratégicos norte-americanos, a primeira a se interessar pelo acervo científico brasileiro?)
Fala-se, por enquanto, de hipóteses: que os dois tucanos autores do projeto de lei, Alfredo Kaefer do Paraná e Carlos Sampaio, de São Paulo, alcancem que o Congresso – esse que sacramentou o golpe – decretem o fim do monopólio estatal sobre qualquer pesquisa na área da energia nuclear.
É estranho, enfim, mas não de todo extemporâneo ao momento em que vivemos no Brasil. Já que os militares não estão sendo consultados sobre a conveniência de se entregar o pré-sal à Chevron como consta ser do programa de José Serra, o ministro interino de Relações Exteriores do Brasil, todo o resto é possível.
Fica-se, no entanto, a conjeturar o que é mesmo que os funcionários públicos armados do País, aprenderam nas escolas militares. Se foi, realmente, a intransigente “defesa da pátria” como se lê nos comunicados que exaram dos quartéis – qualquer consulta aos generais, almirantes e brigadeiros seria o mínimo a esperar. Agora, se nas instituições militares brasileiras se aceitam frase de Samuel Johnson que dizia que o patriotismo era o último refúgio do canalha, não há por que o Brasil ter Forças Armadas, Ou há? Se há, talvez se deva um adendo à frase do dr Johnson como princípio da soldadesca: desde que o patriotismo seja o último refúgio do canalha, o primeiro deve mesmo ser o entreguismo.
E então estamos conversados.
Ou melhor, talvez seja de se esperar, quem sabe, que os paisanos resolvam defender os interesses do país, com ou sem cachaça e torresmo.
Em tempo e a propósito. Quando era presidente, num entrevista que deu ao antigo “Jornal da Tarde”, a versão coxinha da direita brasileira, Fernando Henrique Cardoso defendeu que como o Brasil não tinha uma Marinha e uma Aeronáutica calpazes, talvez fosse o caso de se dar aos norte-americanos a tarefa de vigiar as costas brasileiras. Houve grita nos quartéis e ele não voltou mais ao assunto.
Ateliê Squeff [https://www.facebook.com/atelie.squeff/about]: 14/06/2016.
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Enio Squeff. Artista Plástico.