Em Destaques, Vida Nacional

Por João Carlos Magalhães

Apesar de o número de miseráveis ter subido pela primeira vez desde 2003, quase todas as variáveis que ajudam a definir o nível de pobreza no país continuaram a melhorar no ano passado.

É o que indicam cálculos feitos pelo Ministério do Desenvolvimento Social com micro dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2013.

O esforço do ministério para entender a pobreza para além do critério renda – a chamada “pobreza multidimensional” – usou metodologia elaborada por pesquisadores do Banco Mundial.

Ela combina o nível de renda com uma série de componentes para criar quatro categorias de pobreza: crônica, transitória, situação de vulnerabilidade e o que a pasta traduz como “melhor situação” (em inglês, “better off“).

Conforme dados publicados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) após as eleições, a miséria monetária, ou seja, aquela que é definida apenas pelo nível de renda, aumentou em 2013 – de 10,08 milhões indivíduos, em 2012, para 10,45 milhões. O aumento de 3,7% foi o primeiro desde o início da gestão petista.

No entanto, dizem os cálculos do Ministério, se forem usadas as categorias multidimensionais do Banco Mundial, o grau mais grave de pobreza (pobreza crônica), continuou caindo no ano passado – de 1,4% para 1,1% da população. Em 2003, a proporção era de 8,2%. Essas informações foram reveladas em um artigo da ministra Tereza Campello (MDS) publicado pela Folha na terça-feira (04/11/2014).

O que fez esse índice continuar caindo foi justamente a melhora, entre os 5% mais pobres da população, de 15 dos 17 componentes não monetários, a cujos detalhes a reportagem teve acesso.

Eles são agrupados em seis temas: frequência escolar entre crianças, anos de escolaridade, acesso a saneamento básico e água de qualidade, acesso a eletricidade, condições do domicílio e acesso a bens como celular, eletrodomésticos e computadores.

Entre 2012 e 2013, aumentaram, por exemplo, entre os pobres a proporção de crianças de quatro e cinco anos que frequenta pré-escola (69% para 74,5%) e o índice de pessoas com ao menos nível fundamental (31,1% para 34,4%).

Também cresceu a percentagem de domicílios com acesso à água por rede geral encanada (64,4% para 67,7%), com escoamento sanitário adequado (52,4% para 54%) e com geladeira ou freezer (85,9% para 88,7%).

Diminuíram, contudo a taxa de ocupação da população de 16 anos ou mais de idade (de 72% para 65,7%) e o número de domicílios com acesso à água por poço, cisterna ou nascente (de 12,4% para 12,2%). A renda média per capita dos mais pobres também caiu, de R$ 47 para R$ 45.

As variáveis não monetárias sofrem menos imediatamente com a paralisia da economia e podem ser impactadas por políticas públicas.

Parte dessas políticas estão sob a marca Brasil sem Miséria, conjunto de ações que o governo da presidente Dilma Rousseff lançou em 2011 para cumprir sua promessa de erradicar a miséria.

Os cálculos apresentados agora não têm sido a regra dentro do governo. Apesar de ter desenhado o Brasil sem Miséria a partir de uma perspectiva multidimensional, a administração continuou, pelo menos até agora, a medir a pobreza essencialmente pelo critério de renda.

Link para acesso à matéria: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/194546-governo-usa-novo-metodo-ao-medir-pobreza.shtml

João Carlos Magalhães. Jornalista.


Créditos de imagem: padretelmofigueiredo.blogspot.com

Facebooktwitter