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Redação CB

Os governos da Alemanha, França e Itália aceitaram o convite da China para ingressar no Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB, na sigla em inglês), do qual já participam o grupo do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS, também na sigla em inglês), em resposta às advertências norte-americanas para que os principais países europeus, junto com a Grã-Bretanha, desistissem da ideia. O AIIB, segundo Washington, rivaliza com o Banco Mundial (BID).

A China, segundo a agência chinesa de notícias Xinhua, pretende seguir adiante com os planos de uma rede de infraestrutura que ligue sua região mais oriental – Xian – a Atenas (na Grécia, e ao Porto de Pireus), Veneza (Italia) e Rotterdam (Holanda), depois de passar pelo Cazaquistao, Uzbequistao, Irã, Rússia e Turquia. O capital inicial do AIIB é de US$ 50 bilhões.

Queremos trabalhar em conjunto com organizações financeiras internacionais, à qual somaremos nossa ampla experiência, para apoiar o novo banco a encontrar uma sólida reputação, em nível mundial – afirmou o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble.

Segundo o termo de adesão firmado entre China e Alemanha, nos moldes que seguem em negociação com os demais países europeus, ambos os países concordam que “o AIIB, como um novo banco de investimentos, pode representar um papel importante na provisão de fundos para a infraestrutura mundial”. A expectativa é que os países europeus subscrevam o capital inicial de US$ 50 bilhões até o final deste ano.

Os Estados Unidos pediram aos países europeus, que “pensem duas vezes” antes de se inscrever no novo banco de desenvolvimento liderado pela China. O movimento concentrado por parte de aliados dos Estados Unidos para participar no projeto de extensão econômica de Pequim, segundo analistas ouvidos pela agência inglesa de notícias Reuters, “é um golpe diplomático dos Estados Unidos, em seus esforços para combater o rápido crescimento da influência econômica e diplomática da China”.

A participação da Europa no novo banco, ainda segundo a Reuters, “reflete a ânsia por aderir a uma parceria econômica” com o rápido crescimento da China, segunda maior economia do mundo, em um momento de negociações comerciais espinhosas entre Bruxelas e Washington.

A União Europeia e os governos asiáticos estão frustrados que o Congresso norte-americano, que vetou a reforma dos direitos de voto no Fundo Monetário Internacional. O novo código daria aos BRICS mais voz na governança econômica global. Washington questionou se o novo banco seguirma com os altos padrões de governança e salvaguardas ambientais e sociais previstos no BID.

Eu espero que, antes dos procedimentos finais, quem empresta seu nome a esta organização deve certificar-se de que a governança é apropriada – afirmou o secretário do Tesouro norte-americano, Jack Lew.

Lew advertiu ao Congresso, de maioria republicana, que a China e outras potências emergentes desafiam a liderança norte-americana nas instituições financeiras globais, e ele exortou os legisladores a ratificar, rapidamente, a reforma em curso no FMI, para ampliar a participação dos BRICS.

Em uma declaração conjunta, os ministros dos Negócios Estrangeiros e das Finanças da Alemanha, França e Itália disseram que iriam trabalhar para garantir que a nova instituição “siga os melhores padrões e práticas em termos de políticas de governança, de salvaguardas, de dívidas e de aquisições”.

O Ministério das Finanças do Luxemburgo, por meio de um porta-voz, também confirmou que o país, um grande centro financeiro mundial, também será um dos membros fundadores do AIIB.

O AIIB foi lançado em Pequim, no ano passado, como estímulo ao investimento na Ásia, em transporte, energia, telecomunicações e outras infraestruturas. Uma porta-voz da Comissão Europeia, braço executivo da UE, aprovou a participação dos Estados membros no AIIB como forma de fazer face às necessidades de investimentos globais e como uma oportunidade para as empresas europeias.

O novo banco, segundo analistas, é um meio de ampliar o “suave poder” chinês na região, possivelmente em detrimento dos EUA que segue a sua própria estratégia asiática para reforçar a presença militar e econômica na região. O Banco Mundial é tradicionalmente dirigido por um candidato dos Estados Unidos e Washington também tem a maior influência no FMI.

O ajuste de ações e direitos de voto no FMI foi intermediado pela Grã-Bretanha em uma cúpula do G20 em 2010, e os países europeus ratificaram a medida há quase uma década. Lew disse aos legisladores que o atraso dos EUA em aceitar as mudanças mina a sua credibilidade e influência junto às instituições internacionais.

Não é por acaso que as economias emergentes passaram a olhar para outros lugares, porque são frustrados. Francamente, os Estados Unidos estagnaram um conjunto muito leve e razoável de reformas no FMI – disse Lew.

O governo chinês disse, no início deste ano, que um total de 26 países foram incluídos como membros fundadores AIIB, na maior parte da Ásia e do Oriente Médio. Ela pretende finalizar os artigos do acordo até o final do ano. Segundo a Xinhua, a Coreia do Sul e a Suíça também fizeram consultas à China para ingressar no novo banco.

Porta-voz da chancelaria chinesa, Hong Lei não quis comentar sobre quais os países que já formam o conjunto de fundadores da instituição financeira e repetiu que o banco é “aberto, inclusivo, transparente e responsável”.

Publicado no Correio do Brasil (18/3/2015).


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