Em Cinema, Destaques

A Embrafilme, surgida como uma resposta do regime à pressão dos cineastas e uma tentativa desse mesmo regime de controlar a produção cinematográfica, passou a dominar o panorama do cinema a partir de sua fundação em 1969. Logo em seguida, e à margem da Embrafilme, surge uma produção comercial que começa com comédias leves de costumes e vai desembocar na pornochanchada. As décadas de 70 e 80 vão ser delimitadas por essa divisão: os filmes produzidos pela Embrafilme e a pornochanchada. No seu auge, a pornochanchada não escondia seu parentesco popularesco com a chanchada, embora fosse um pouco mais fundo no erotismo. Era produzida, ao contrário dos grandes estúdios que centralizaram a chanchada, por dezenas de pequenos produtores, o que contribuiu para um baixo nível de linguagem e de apuro técnico. No entanto, essas duas grandes linhas, a da Embrafilme e a da pornochanchada deram certa estabilidade à produção nacional durante duas décadas. Na verdade não havia crise, o cinema encontrou seu publico, o numero de filmes realizados por ano cresceu, chegando a mais de 90 em 1979. Também produziu, na época, o campeão absoluto de bilheteria de nosso cinema (Dona Flor e Seus Dois Maridos), só destronado depois da virada do século por “Tropa de Elite 2”.

A crise seguinte veio no final dos anos 80: a liberação do filme pornográfico em alguns cinemas e no mercado do vídeo cassete roubou grande parte do publico da pornochanchada e a Embrafilme ficou sob o fogo cruzado de cineastas insatisfeitos e de um publico minguante, devido à crise de criatividade dos realizadores. Alguns anos de crise e o então Presidente Collor deu o tiro de misericórdia no cinema nacional, acabando com a Embrafilme e com o Concine, sem pôr nada no lugar. Em 1993, apenas 3 longas metragens foram terminados.

O fim dessa crise veio por volta de 1994, com a adoção da política de benefícios fiscais através da Lei Rouanet (e, em seguida, da Lei do Audiovisual) e com a criação da Ancine para regular e, ao mesmo tempo, funcionar como indutora da produção, controlando os repasses das leis de incentivo. Começou um novo período de crescimento da produção, de desenvolvimento de diversas propostas estéticas e de uma tentativa de ganhar o publico nacional através de filmes mais bem realizados e produzidos. Com o surgimento de políticas de incentivo mais recentes, como o Fundo Setorial, a produção cresceu chegando a um record em 2013, com 127 filmes produzidos. Muitos desses filmes tiveram grandes bilheterias, gerando alguns bons espetáculos e permitindo que outros centros fora do eixo Rio-São Paulo surgissem, como o cinema de Pernambuco, de onde tem vindo alguns dos melhores filmes dessa longa safra. Mas esse aparente sucesso trouxe, em seu interior, as pré-condições para uma nova crise.

Entre 1994 e 2002 o numero de filmes brasileiros foi aumentando. Mas sua participação na ocupação das telas nacionais, nem tanto. Em torno de 2001, essa participação não passava dos 7%. Ou seja, de todas as salas de cinema do país, a bilheteria dos filmes brasileiros não passou de 7%. Os outros 93% foram conseguidos por filmes estrangeiros, na sua imensa maioria, americanos. Em 2002/2003 dois fenômenos importantes aconteceram. Primeiro, foi lançado o primeiro “blockbuster” nacional, “Cidade de Deus”. Segundo, a Globo Filmes entrou para valer no mercado.

Link para o artigo antecedente à este – Brasil: cinema em crise (Parte 1)


Créditos de imagem: aictv.com.br

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