Em Conjuntura Internacional, Destaques

A ignorância ocidental sobre o Oriente e mais especificamente sobre Índia e China procura encontrar semelhanças e paralelos entre esses dois países, talvez por causa da ascensão económica recente da Índia que, pelo menos em percentuais, se assemelha àquela da China dos anos 1990 e 2000. Pois bem, vamos procurar demonstrar que esta coincidência é a única coisa que têm em comum estas duas nações.

Michel Angot, um dos grandes hinduístas da atualidade afirma que a Índia é um país sem História. O que ele quer dizer é que a Índia não precisa de História. Para entender o que esta declaração significa, examinemos o seu oposto, a China. Desde a década de 80, ainda antes de seu espetacular sucesso econômico, poder-se-ia observar levas de estudantes chineses, de turistas chineses visitando os monumentos históricos do país, Muralha da China, Cidade Proibida etc. Em contraste, na Índia, os peregrinos visitam as doze cidades sagradas e os rios, também sagrados, para festivais religiosos. Museus na Índia são raríssimos enquanto na China são bastante comuns e ricos. Enquanto o hindu preza joias, ouro, diamante e especialmente o rubi, o chinês adquire antiguidades. A razão para esta diferença advém das disparidades entre as crenças básicas desses dois povos. Enquanto a religião fundamental chinesa deriva da veneração dos seus ancestrais e na crença de sua perenidade e da proteção que dos antepassados provem, o hinduísmo se baseia em um panteão de deuses eternos, não havendo relação de origem, eles e os homens. Não há passado para o hindu. A História é um conceito meramente intelectual, não tem espaço no cotidiano do cidadão hindu.

Outra diferença fundamental entre as duas culturas é o fato de que na Índia não se distingue entre o sagrado e o profano. O chinês é tão místico quanto o hindu, entretanto, para ele há uma clara distinção entre religião e vida social. Uma contabilidade recente mostra que, na Índia, para cada dois habitantes há um Deus.

Contrariamente ao que aconteceu na China, onde uma sucessão de longos e extensos impérios ocorreram, na Índia jamais existiu um verdadeiro império e sequer um arremedo de Estado. Legislações ou coisa parecida são locais, não regionais. Somente com a colonização inglesa e, portanto, por imposição externa, encontrou a Índia alguma ordem social. Talvez seja por isto que a organização por castas, não a Bramaniana, mas aquela dos “jitas”, tenha tido tanto sucesso e importância na Índia. Ou seja, enquanto a China é um país onde há historicamente uma ordem social homogênea, a Índia, a despeito da (ou talvez por isso mesmo) existência de uma intensa vida intelectual e artística, tenha permanecido uma sociedade anarquista.

 

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