Em Destaques, Vida Nacional

Por José Eisenberg

1. Crises políticas aceleram o tempo da história. Suas testemunhas vêem o tempo passar em ritmo alucinante, já que os eventos relevantes ocorrem em períodos cada vez mais curtos. Tudo é notícia. Crises econômicas fazem o inverso — desaceleram o tempo da história. A economia encolhe, as compras ocorrem em intervalos maiores, os salários demoram para cair, perde-se o sono em torno do futuro imediato, do dia seguinte. Tenho a impressão que estamos deixando a crise política desmanchar no ar na medida em que a crise econômica se torna a narrativa incontornável do ano que vem. Na medida em que desaparecem os peões, bispos e cavalos alvejados pela Lava-Jato, as torres e a dama se preparam para os lances improvisados depois da abertura, uma Rui Lopez cheia de ousadia e trocas de peça de resultado incerto. Até ela deve virar uma guerra de posição em breve. E a recessão vem aí, rapidamente, com cara de que não vai acabar nunca.

2. Por falar em xadrez e sujeira, as últimas prisões da Lava-Jato no Rio de Janeiro suscitaram um debate acalorado e pueril nesta terra de iluminados que não fazem política nenhuma, mas que não param de falar dela — we, the people do FB. Lamento com o sorriso na cara a decisão de um juizinho de Zona Eleitoral de mandar prender o Little Kid. Pura vendetta. Nada a ver com a conjuntura a não ser pelo fato dela favorecer este tipo de caça às bruxas. Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.

3. A prisão do Cabral produziu sorriso similar, mas se ele entrará para a história como uma “casualidade” (anglicismo imperativo nesse contexto) na saga do abolicionismo penal contra este tipo de arbitrariedade, que seja. Que as grandes odes contra o punitivismo fiquem para um outro momento. A vingança ocupa um lugar na política similar ao dos interesses. Prefiro os políticos virtuosos, independente de suas convicções, e não interesseiros. Fico, contudo com os melhores interesses, os mais nobres, e alimentar a utopia republicana. Da mesma forma, prefiro a vingança dos outros contra meus inimigos do que aquela feita contra os meus amigos. Alimento, enquanto isso, a utopia abolicionista.

4. São tantos a clamar a ineficácia da greve como instrumento de luta nas universidade públicas brasileiras. Como disse um amigo outro dia, nunca vi vitória nestas lutas que não fosse através de greves. Poucos inimigos da greve contestam este dado, mas resistem com teimosia a seu uso. Poucos, por exemplo, pararam para pensar que, se a PEC for aprovada, com o congelamento a níveis atuais e correção pela inflação dos gastos com educação, no MEC, cuja folha salarial come mais de 90% de seu orçamento, a consequência da PEC é que, nos próximos dez anos, não haverá nenhum reajuste salarial de seus funcionários. Somente correção por uma inflação que certamente será maquiada inúmeras vezes para conter os gastos. Vamos fazer greve, então? Ou será que os servidores das universidade federais, em particular os docentes, vão ter que conhecer a vida dos servidores e terceirizados dos Estados? Tenho noticias de que em MG, a ficha já começa a cair…

5. Os Estados precisam de um PROER e o Meirelles oferece um modelo de financiamento do endividamento baseado em lastro, que os Estados não tem. Nos últimos anos do governo Dilma, e até antes, a União fiou empréstimos de alguns Estados junto às agências multilaterais internacionais para que produzissem recursos, e isso só ajudou a produzir a crise. Está cada vez mais claro que a missão de Temer é somente adiar a bomba para depois de 2018.

6. O debate entre Aloysio Nunes e Aécio sobre a reeleição do presidente em exercício evidencia a divisão dentro do PSDB sobre esse tema: Aecio corre contra o tempo, pois definha politicamente a cada dia. Serra e seus aliados gostariam que a bomba explodisse primeiro, para depois entrar em cena em busca de protagonismo.

7. Lula anda quieto, seus advogados agindo contra Moro na produção de algum ruído jurídico, e ele subindo em caminhões e fazendo mobilizações locais junto aos movimentos sociais, especialmente assentamentos e sindicatos. Para a grande mídia, pouco fala. Sabe o que faz. Por que faz, só ele sabe. Uns creditam a escolha a uma postura defensiva. Sou da tese de que prepara uma grande ofensiva para quando a crise política for definitivamente suplantada pela crise econômica. Ele não é estúpido.

8. O amigo Bruno P. W. Reis* tirou um coelho da cartola ao perceber que o grande problema do atual desenho do financiamento eleitoral no Brasil é o teto sobre doações, fixado em um percentual de 10% da renda. Por Zeus, viramos um país com direitos políticos censitários novamente. Quem tem mais renda pode influir mais nas campanhas do que quem tem menos. Isso é caso para ADIN. Surpreende-me que nenhuma representação tenha sido feito contra esse atentado à Constituição. Como lembra Bruno, um teto nominal resolveria esta jabuticaba, que só existe no Brasil.

9. Paes e Crivella, juntos, podem formar a nova hegemonia política do Rio de Janeiro. Conversam, se entendem, e em 2018 duvido que o prefeito eleito não apoie o atual para governador. O quadro político do Rio ficará ainda mais intrigante se o Paes retornar para os braços do PSDB e seus potentes financiadores de campanha. Preocupa.

10. Diante do parcelamento dos salários de outubro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), darei minhas aulas em parcelas também. Terça-feira, dez minutos de aula pra garotada.

* Novas regras de financiamento e uma tipologia de nossos políticos – http://bit.ly/2g7ovIZ

 

Do FB do Autor [http://bit.ly/2gkuXza]:10/11/2016.

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José Eisenberg. Cientista Social. Ph.D. em Political Science (City University of New York).

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