Em Destaques, Vida Nacional

Por Marco Antônio Teixeira Carvalho

Terminou hoje (14/09), a sabatina com os candidatos a prefeito de S. Paulo na CBN. O ultimo entrevistado foi o do PSTU. Divido aqui meu balanço em cinco blocos:

  1. Candidatos completamente despreparados para discutirem os temas da cidade e parecem aventureiros uma vez não articulam suas propostas sequer com a dimensão do possível em termos orçamentários e legais. Prometem o que não cabe em nenhum orçamento, dizem que vão tomar decisões que não resistem a uma ação judicial mais primária e não dominam dados sobre a cidade. Propostas como indenizar 30.000 taxistas com 100 mil cada um e criar bolsões de creches com 30.000 vagas foram apresentadas. São eles os candidatos de Levy Fidelix do PRTB e João Bico do PSDC. Major Olimpio do Solidariedade mostrou-se mais preparado do que Levy e Bico e pelo menos demonstrou algum conhecimento sobre a gestão municipal.
  2. Candidatos que buscam nacionalizar o debate local e propõem temas que dependem de mudanças constitucionais e de uma profunda transformação nos sistemas político e econômico. Demonstram limitações como gestores, desconhecem dados básicos da cidade como salário do prefeito e número de secretarias e repetem palavras de ordem contra o capitalismo. São os casos de Henrique Áreas do PCO e Altino do PSTU. Ambos querem fazer a Câmara Municipal se submeter a conselhos populares e suspender o pagamento da dívida municipal;
  3. Candidatos com experiência institucional e com propostas de  mudanças radicais na relação do governo com a sociedade por meio do uso das subprefeituras como espaços de discussão de políticas territoriais e utilização de recursos tecnológicos para consultas públicas. São os casos de Erundina do PSOL e Young da Rede. Principal problema dos dois: romantizar o papel da sociedade no processo de governabilidade e não da o peso adequado para articulação política na Câmara Municipal, algo que Luiza Erundina viveu como problema quando governou a cidade, ainda no PT, entre 1989 e 1992. Faltou a Erundina valorizar instrumentos de planejamento e gestão como o plano de metas.
  4. Candidatos que focam suas campanhas em críticas pesadas a atual gestão, mas escorregam em propostas que buscam mais atender o apelo popular de forma demagógica e que beira a irresponsabilidade. São os casos de Russomano e Marta Suplicy que abusam da retórica demagógica em relação as multas e passam a impressão de que toda a transgressão no trânsito é produto uma grande injustiça e da sanha arrecadatoria promovida pela atual gestão, como se não houvessem transgressores no trânsito da cidade. Russomano parece que não aprendeu com 2012, basta ver o que falou em relação a população de rua. João Dória também está nesse grupo mas se diferencia em relação aos dois. Ataca a gestão Haddad e o PT, como era de esperar de um tucano, mas busca de maneira didática apresentar propostas em áreas sensíveis para a atual gestão. Tenta adotar uma postura de antipolítico ao realçar sua trajetória empresarial e tentar desconstruir sua imagem de alguém proveniente da elite econômica ao destacar que tem familiares de origem nordestina, por exemplo. Quem prestou atenção nele desde que virou o candidato do PSDB pôde perceber que vem mudando de opinião, ou adequando o discurso, em questões que podem lhe tirar votos: não vai mais privatizar o Pacaembu e sim fazer concessão; não vai mais rever o fechamento da paulista aos domingos, antes disse que rediscutiria essa medida; e tem falado em aumento da velocidade nas marginais, deixando a impressão que não vai alterar nas demais vias municipais;
  5. Por fim, Fernando Haddad, não tem muito o que fazer a não ser defender a gestão e dizer que vai fazer aquilo que prometeu e ainda não concluiu no seu primeiro governo. Busca mostrar com dados que a saúde melhorou, que as vagas em creches aumentaram, que a cidade está melhor, mas a percepção negativa da sociedade sobre a sua gestão tem persistido. Se chegar ao segundo turno, algo que as ultimas pesquisas colocam no campo do improvável, o mérito será todo dele. Cabos eleitorais como Lula e Dilma, que foram importantes para a sua eleição em 2012, hoje mais tiram votos do que somam.

CBN: 14/09/2016.

Marco Antônio Teixeira Carvalho. Doutor em Ciências Sociais. Professor e pesquisador da FGV-SP.


Imagem: sindsep-sp.org.br

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