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No mundo da política, ainda é tempo de articular apoios eleitorais. Esta semana foi o PTB que aderiu ao projeto de reeleição de Dilma Rousseff. Mirando ampliar o leque partidário, os governistas buscam aliança com o Partido Progressista.

Também à busca de apoios, Aécio Neves foi atrás do PSD, querendo o ex-banqueiro Henrique Meirelles em sua chapa presidencial. Mas a operação não foi concretizada: o presidente da legenda, Gilberto Kassab, nega querer desembarcar da campanha pela reeleição de Dilma Rousseff. Ao menos até aqui.

Se os políticos estão preocupados com a sucessão, os demais brasileiros estão é de olho na elevação da temperatura social: são cada vez mais explosivas as mobilizações de trabalhadores, de sindicatos e de movimentos sociais. Em estado bruto, muitas vezes mesmo de maneira  selvagem, as demandas transbordam para as ruas das cidades, em alguns casos com certa leniência das autoridades policiais. E sem que sejam encontradas formas negociadas para equacioná-las com rapidez.

Durante o mês de maio, em São Paulo e outras cidades, greves e passeatas travaram a urbe, prejudicando a população. Entrevistados pelo instituto Datafolha, 73% dos paulistanos reprovaram os protestos, considerando que geram mais prejuízos que benefícios à sociedade (mas ainda há uma estreita maioria [52%] em apoio às manifestações, talvez por considerar as demandas justas).

Nesta mesma enquete, o Datafolha divulgou a opinião dos paulistanos a respeito da realização da Copa do Mundo no Brasil. Embora restrita a cidade de São Paulo, a pesquisa indica que há cisão sobre o tema (45% apoiam e 42% rejeitam a realização da Copa no Brasil). Motivo? Há muitos, pois é negativa a visão dos paulistanos a respeito do evento: (a) 90% acreditam haver corrupção na sua organização; (b) para 76% dos entrevistados, o país não está preparado para sediar a Copa; e, (c) para 66%, o Mundial vai trazer mais prejuízos que benefícios para o Brasil. Mesmo assim, é majoritária (63%) a rejeição às manifestações de protestos durante a Copa.

PESQUISA IBOPE, 22/5/14 – a candidatura de Dilma Rousseff vai recuperando o espaço perdido nos últimos meses. A posição firme da candidata (“É a minha hora. E vou até o fim. Perdendo ou ganhando”), a propaganda partidária agressiva e a maior presença de Dilma na cena nacional, parecem ter surtido efeito positivo: na hora de definir preferência eleitoral para a Presidência da República, 40% dizem que votarão pela reeleição de Dilma Rousseff, contra 36% de intenção de voto para todos os demais candidatos, somados (e cerca de 1/4 do eleitorado permanece sem indicar preferência: 24%).

Mas o quadro ainda é muito delicado e a candidata precisa enfrentar muita resistência: a opinião pública estaria  dividida a respeito de temas políticos. Aqui vamos examinar algumas das tendências identificadas nesta enquete do Ibope:

• A maioria dos brasileiros está satisfeita com a vida que leva: constatou-se que 80% dos entrevistados pensam assim. Divulgada há um mês, uma outra pesquisa (do instituto DataPopular) nos auxilia a entender este número do Ibope – nela, também há uma maioria de brasileiros que diz que a vida melhorou e  atribuem o fenômeno a si mesmo e a Deus: “para 67% dos brasileiros, a vida melhorou no último ano, e esse avanço foi fruto do esforço pessoal (52%) e de Deus (31%). Apenas 2% creditam a melhora ao governo. A resposta [também] indica o desencontro entre a percepção sobre a vida [pessoal] e a vida pública: enquanto quase 70% avaliam que a vida melhorou no último ano, a porcentagem cai para 44% na avaliação sobre o progresso do País”. (DataPopular/Exame, 24/4/14).

• Assim, em linha com esta leitura do mundo, 2/3 dos brasileiros querem mudanças no governo (e com outro Presidente da República) – 65% dos entrevistados são favoráveis a mudanças (e apenas 30% defendem a continuidade). Neste mesmo universo pró-mudanças, reduz-se a 25% os que acreditam que Dilma Rousseff poderia liderar o processo, enquanto 67% querem as mudanças com outro Presidente. Um dado da pesquisa sugere o motivo: mesmo por estreita margem, há um déficit de confiança em Dilma Rousseff (51% não confiam nela). Outros números reforçam esta percepção – depois de três anos de gestão da Presidente, a avaliação de seu governo é problemática, acirrando e dividindo a opinião pública: (a) 48% dos entrevistados desaprovam a forma como Dilma dirige o governo, contra 47% que aprovam; e, (b) 35% dos brasileiros consideram o governo como Ótimo/Bom (mas, para 33%, ele é Ruim/Péssimo). “Há uma polarização crescente do eleitorado, entre simpatizantes do governo e quem não o suporta. As opiniões estão se radicalizando” – avalia José Roberto Toledo (O Estado de S. Paulo, 23/5/14).

A crer nas pesquisas, Dilma Rousseff e os demais candidatos pedem votos em um colégio eleitoral que seria formado por cidadãos que reconhecem que houve avanços  qualitativos em suas próprias vidas, mas que foi o esforço pessoal – com o todo-poderoso auxílio divino – que os trouxe até aqui. É o ceticismo popular contra os políticos e a Política – associado a uma perspectiva social hobbesiana marcada pela cultura da competição e do individualismo – que nos vai legando este quadro de insatisfação, de baixa credibilidade e de desconfiança com relação às instituições brasileiras.

PROSSEGUE o PESSIMISMO quanto ao FUTURO – Já na área econômica apesar de todos os indicadores divulgados apontarem para o equilíbrio – mesmo que instável – do cenário, as “previsões” disponíveis na mídia começam a indicar um 2015 desastroso com ameaças em todas as frentes, desde recessão até perdas importantes nos ganhos sociais conquistados nos últimos anos.

Tudo isso tem como pano de fundo o processo eleitoral com posicionamentos explícitos como o do representante do financismo, Mark Mobius (Templeton Emerging Markets Group) que previu recuperação dos “investimentos” internacionais, no Brasil, apenas com a mudança de Presidente da República.

Outra novidade, considerando a questão eleitoral, foi o artigo de Armínio Fraga, cotado para ministro da economia num eventual governo Aécio Neves, em conjunto com Marcos Lisboa, publicado pela Folha de São Paulo (25/05): ‘Hora de mudar o Foco’. Eles criticam o modelo de incentivos utilizado pelo governo brasileiro que privilegia alguns setores escolhidos em detrimento da sociedade em geral.

Em suma, o futuro Presidente da República precisará desempenhar-se como um grande estadista, se quiser reverter este confuso e adverso cenário nacional.

Créditos de imagem: jornaltudobh.com.br

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