Em Análises e Reflexões, Destaques

Na China duas religiões conviveram harmoniosamente até o advento da rota da seda durante a dinastia Han (206 AC – 220 DC), quando o Budismo vindo da Índia inicia sua penetração pelo norte da China, deslocando pouco a pouco o Confucionismo e até certo ponto associando-se ao Daoismo. A diferença fundamental entre Confucionismo e Daoismo é que a primeira vê o homem como integrante de uma sociedade e, consequente, coloca o bem coletivo acima dos interesses do indivíduo, enquanto o Daoismo privilegia o indivíduo. Um caso clássico da antinomia esquerda-direita. No início da Dinastia Han do leste o Budismo se torna a religião oficial e ao fim desse período (220 DC) um verdadeiro caos político domina a China até a tomada do poder pelos Song (960 DC), quando o Budismo é expelido da China. Pouco antes, já durante a Dinastia Tang (618 – 907 DC) o Daoismo começa a se recuperar e durante a Dinastia Song (960 – 1279 DC) estabelece-se o harmonioso dualismo Daoista-Confucionismo e com isso restauram-se a ordem e o progresso na China. Até hoje, apesar da interferência do Maoismo, que não obstante se mantem superficial, o comportamento social do homem comum chinês é fundamentalmente comandado por essa balança, equilíbrio, entre o Daoismo individualista e o Confucionismo proto-socialista.

No Japão algo um pouco semelhante aconteceu. A religião original, Shinto, se baseia em reverência aos antepassados e a uma plêiade de Deuses gerais e locais denominados Kami, que se confundem com elementos da natureza. A consequência dessa ascendência comum é a primazia do bem social. Todavia, a introdução do Budismo, vindo da China, no Japão, em começos do século VII DC foi uma religião consolidada de um amalgama entre Budismo e Shinto que veio a ser denominada Ryobu Shinto. Hoje, o casamento se faz no altar Shinto (Jingu) com cerimônias desta denominação, enquanto as funerais são realizadas em templos budistas, quase sempre. Em certos locais os deuses Shinto, os Kami, são identificados, fundidos mesmo, com os Bodhisattvas do Budismo. Alguns comentaristas e historiadores acham que esta fusão entre uma religião claramente inclinada para a sociedade e outra individualista como o Budismo, é a principal responsável pela ordem que permitiria ao Japão um relativo progresso, senão paz, durante o período dos vários shogunatos que se seguiram à penetração do budismo no Japão, e se manifesta até nossos dias.

Os exemplos acima mostram que um equilíbrio entre direita e esquerda é profícuo para a sociedade, pois proporciona o aproveitamento das vantagens peculiares a cada uma das duas posturas naturais aos homens. Tentar, como fazem alguns comentaristas da direita, eliminar essa saudável antinomia ideológica é uma grande burrice, para dizer o menos.


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