Em Conjuntura Internacional, Destaques

O dinamismo exibido pelos chineses na recente sessão da APEC, em Pequim, estará sem dúvida por trás de artigo que o respeitado Professor Jeffrey Sachs acaba de circular. Põe ele em contraste a exibição de musculatura geopolítica oferecida pela China, e a pobreza da atual política externa dos EUA, interminavelmente emaranhada nos impasses do Oriente Próximo. “É desconcertante”, frisa o Professor, “o número de iniciativas chinesas.” Nos últimos doze meses, por exemplo, a China lançou quatro grandes projetos, concebidos como motores para assegurar a centralidade da China no futuro da Ásia. Em aliança com os BRICS, criou o Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai. Deu forma ao Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura, com sede em Pequim, dedicado a financiar a construção de estradas, ferrovias e centrais elétricas na região. Estimulou a edificação da Nova Rota da Seda, iniciativa que busca conectar a China com as economias do Leste e Sul da Ásia, a Ásia Central e, mais além, a Europa, por meio de malha ampliada de trens, rodovias, eletricidade, fibra ótica e outras redes. Idealizou, por fim, a chamada Rota da Seda Marítima do Século XXI, com vistas a impulsionar o comércio por mar no Leste Asiático e no Oceano Índico. O Presidente Xi Jinping articulou, na reunião da APEC, a visão de um sonho compartilhado de desenvolvimento e prosperidade para os países membros, e acentuou: “A China tem a capacidade e o desejo de suprir a Ásia-Pacífico e o mundo com os bens públicos para isso necessários.”

Dois organismos internacionais estão fazendo coro com essa visão dos avanços chineses. Cálculos do FMI mostram o PIB da China ultrapassando, já em 2014, o dos EUA: US$17.6 trilhões contra US$17.4 trilhões. Em termos absolutos, por certo, como decorrência da imensidade da população chinesa. Em termo per capita, o PIB da China (US$12,900.00) é ainda menos de um quarto do dos EUA. Relatório recente da OCDE pretende, por sua vez, que a China já ultrapassou a UE no rol mundial dos investidores em pesquisa e desenvolvimento, e poderá desbancar os EUA do primeiro lugar, na altura de 2019. Ainda segundo o relatório da OCDE, se mantido o mesmo ritmo de crescimento, a China estará alcançando dentro de 20 anos o nível dos 600 bilhões de dólares nos seus investimentos domésticos em P&D, em comparação com US$397.00 bilhões dos EUA e US$282.00 bilhões da UE.

Voltemos à asseveração de Xi Jinping de que a China já está capacitada a produzir bens públicos para o bom funcionamento da economia mundial. Somente EUA e China exibem, hoje, tal capacidade, e é digno de nota que Xi venha apelando, desde sua chegada à Presidência em 2013, pela construção de um novo modelo de relações entre grandes potências, com o objetivo, segundo alguns analistas chineses, de liberar EUA e China da chamada “armadilha de Tucídides”, ou seja, a ideia de que uma potência em ascensão será inexoravelmente levada a colidir com a grande potência estabelecida. Ao simplesmente falar de superpotências, Xi está assumindo esse status para a China, algo significativo e inovador para os dirigentes chineses, que até a Quarta Geração frisavam a condição de potência emergente, país em desenvolvimento, em que ainda se encontraria a China. Xi abandonou, também, o respeito aos conselhos de Deng Xiaoping de edificar em silêncio o poderio da China. Num discurso em Paris, em março de 2014, após lembrar o famoso dito de Napoleão, alertando o mundo a não despertar o adormecido leão chinês, Xi continuou: “O leão já acordou, mas é um leão pacífico, tranquilo e civilizado.”

Após a sessão da APEC e a visita de Estado de Barack Obama a Pequim, tratadas na coluna anterior, Xi Jinping não viajou como fez o Presidente americano para o Mianmar, a fim de assistir à reunião da ANSEA. Coube ao Primeiro Ministro Li Keqiang representar a China. Xi guardou-se para ir a Brisbane participar de cúpula do G-20, seguindo-se um rápido circuito por Austrália, Nova Zelândia e Fiji. De volta a Pequim, ainda em novembro, Xi convocou reunião de alto nível, num formato já utilizado antes dele, em 2006, com o comparecimento de todo o Birô Político do PCC, altas patentes militares e funcionários de alto escalão, inclusive Embaixadores trazidos dos seus postos no exterior. Xi pronunciou na ocasião importante discurso, claramente voltado para tranquilizar os vizinhos da China diante do robustecimento chinês. Conforme resumo publicado por The Economist (06/12/14), três mensagens foram desenvolvidas pelo orador: (1) a China já é uma grande potência e merece ser respeitada como tal; (2) a ordem internacional e a ordem no Leste Asiático estão mudando, deixando implícito que o poder americano vem declinando; (3) embora a China possa reagir a ameaças aos seus interesses, o desejo de Pequim é levar adiante um delicado processo político no qual todos ganhem.


Créditos de imagem: datos-bo.com

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