Em Conjuntura Internacional, Destaques

Um Estado que aspire, hoje, a ter presença global precisa adquirir capacitação no espaço exterior. Tanto militar quanto civil. É o caso da República Popular da China, que no ano 2000 começou a sintetizar seu êxito no desenvolvimento das bombas atômica e de hidrogênio, bem como num avançado programa espacial civil, cunhando o slogan “Duas Bombas. Um satélite.” “Satélite” simbolizando, aí, o conjunto da indústria espacial, dividida em três categorias: veículos espaciais (satélites e naves manobradas); mísseis de lançamentos; e a infraestrutura em terra (sistemas de acompanhamento e plataformas de lançamento).

O pesquisador de origem chinesa Tai Ming Cheung, atualmente na Universidade da Califórnia, tem um útil capítulo sobre as duas vertentes do esforço espacial chinês (cf. Fortifying China. Ithaca: Cornell University Press, 2009). Segundo ele, a China começou a aumentar seus investimentos de P&D no setor espacial a partir da década dos 1990, permitindo com isso uma notável mobilização de recursos e talentos oriundos da academia e das instituições de pesquisa científica. A comunidade assim mobilizada pôde estabelecer ampla cooperação com países estrangeiros e institutos internacionais, com destaque para a Rússia. Os russos forneceram considerável assistência técnica no desenho e construção da nave manejada Shenzhou; nos sistemas de suporte da vida no espaço; e no treinamento dos “taikonautas”. O primeiro destes orbitou exitosamente o planeta em 2003. Seguiu-se (2005) uma nave com dois tripulantes.  E em 2008, a Shenzhou VII levou três, um dos quais fez uma caminhada espacial, vestindo roupa desenvolvida na China, tudo transmitido ao vivo pela televisão. Apesar da ajuda obtida no exterior, os dirigentes chineses estavam determinados a desenvolver a própria tecnologia, e criaram uma Comissão Especial Central (CSC), formada pelas mais altas autoridades civis e militares, com poder decisório nos principais projetos de valor estratégico do país.

O programa espacial chinês vem adquirindo uma dinâmica própria, independente da trajetória americana. Pequim frisa continuamente a natureza pacífica desse programa e faz campanha pela proibição de armamento espacial. A Shenzhou VII serviu também para dar início à construção de um laboratório, prenunciador de estação espacial. Passos adicionais nesse sentido foram dados em 2013, quando o módulo Tiangong 1 recebeu a visita de três taikonautas, inclusive uma mulher. Em 2007 foram lançadas as missões Chang’e, voltadas para a lua. A primeira sonda, após orbitar o satélite, foi jogado propositalmente contra o solo lunar. Uma segunda sonda (2010), após as órbitas foi desviada para circunavegar o sol. A Chang’e 3 pousou com sucesso na lua (dezembro de 2013) e pôs em serviço um robô de exploração, algo que não acontecia desde 1976. Os planos são para colocar um homem na lua, nos anos 2020.

A China vai, pois, se afirmando como potência espacial, conquista reconhecida pela Federação Astronáutica Internacional, que convocou para Pequim seu 64º Congresso, em setembro de 2013. Destoante foi o comportamento americano, apesar de a revisão feita pelo Governo Obama na Política Espacial dos EUA haver amainado o conteúdo acerbamente anti-chinês da época de Bush. O peso republicano em Washington tem criado resistência à nova política, e a delegação americana ao Congresso da FAI foi inexpressiva. Seu chefe, Charles Bolden, presidente da NASA, compareceu proibido de conversar com os pares chineses, e teve de munir-se de uma autorização especial para poder usar a tribuna.

 

Créditos de imagem: gamevicio.com

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