Em Conjuntura Internacional, Destaques

Dois meses depois do giro de Obama por quatro países do Leste Asiático torna-se possível reconhecer que os esforços do Presidente americano pouco ou nada conseguiram na promoção da dimensão comercial do “pivô” para a Ásia Pacífico, a chamada Parceria Trans-Pacífica (PTP), a não ser que se aceitem as alegações da oposição republicana em Washington, ou de círculos políticos na Malásia, quanto a uma agenda secreta para a PTP. Nas quatro capitais visitadas prevaleceram os temas militares, não sendo assim de surpreender a troca de farpas ocorrida no quadro do “Diálogo do Shangri-la” (Cingapura, 31.05.14). O Secretário da Defesa americano acusou a China de “continuar com ações desestabilizadoras e unilaterais nos seus mares periféricos”, e as altas patentes chinesas presentes replicaram: “Os EUA estão cometendo um grande erro estratégico, na sua maneira de lidar com a China. Tratar a China como inimiga é tornar inevitável que ela se erija em inimiga.”

Situação que certamente não deseja Pequim. Resposta típica dos chineses à pressão trazida pelo giro de Obama foi a convocação para Xangai (20-21.05) da sessão de 2014 da CICA (Conferência sobre Interação e Construção de Medidas de Confiança na Ásia). Uma organização criada em 1992, por iniciativa do Presidente do Kazaquistão, Nursultan Narbaiev, num momento em que o colapso da União Soviética estava transformando a situação global, com o fim da Guerra Fria, e em especial o balanço de forças na Eurásia. A presidência da CICA encontrava-se agora com a Turquia, que a passou à China na reunião de Xangai. A imprensa chinesa deu grande relevo ao fato, descrevendo a reunião da CICA como um dos dois importantes símbolos da “Diplomacia do Acolhimento”, que a China se propõe implementar em 2014. O outro evento de peso será a sessão da APEC, a ser abrigada pela China em novembro deste ano. A velha APEC, que os americanos lutam por transformar na anti-chinesa PTP.

A CICA é um mecanismo de segurança internacional voltado particularmente para a Ásia Ocidental, com a China e a Rússia como um duplo núcleo. A reunião de Xangai permitiu a Putin apoiar-se na China para barrar a pressão do Ocidente na Ucrânia. Em março, antes de ir a Xangai, Putin assinara com os Presidentes do Kazaquistão e da Bielorússia um memorando para a criação da União Econômica Eurasiana. E a reunião da CICA deu à China a oportunidade de robustecer a Eurásia contra as teorizações americanas da Ásia-Pacífico. Xi Jinping pôde mesmo propor a criação de uma nova estrutura de cooperação para a segurança na Ásia, incluindo a Rússia e o Irã, mas sem os EUA. Ou seja, Moscou e Pequim puderam ambas dedicar-se aos seus “exteriores  próximos”. Mais ainda, Putin e os chineses lançaram as bases de um verdadeiro “pivô” no quadro energético mundial. Há dez anos, China e Rússia discutiam a compra de gás da Sibéria sem maiores resultados. Os gasodutos seguiam buscando o Ocidente. À sombra da CICA foi afinal assinado acordo  redirecionando o fluxo do gás. A estatal russa Gazprom começará até o fim da década a fornecer anualmente à China, num período previsto de trinta anos, 38 bilhões de metros cúbicos de gás natural. A China assegurou-se uma fonte de energia primária livre dos percalços do transporte marítimo de longa distância, Em região que abre às grandes companhias chinesas campo para intermináveis investimentos em infraestrutura, dando de imediato à Rússia uma sensação de desafogo diante do cerco ocidental.

Créditos de imagem: 150less4.com

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