Em Conjuntura Internacional, Destaques

Retorno hoje a um dos meus primeiros temas neste blog. A tendência de países em vias de tornar-se potência a buscar frentes de trabalho em terras distantes, em geral em zonas de influência de potência rival, no intuito de ampliar e proteger seus interesses em expansão. Naquela oportunidade, ocupei-me das escalas que o Presidente chinês Xi Jinping, a caminho de encontrar Barack Obama na Califórnia, efetuou em países do tradicional backyardamericano: Trinidad-Tobago, Costa Rica e México. Em Trinidad, inclusive, a comitiva de funcionários e empresários chineses conduziu  conversações com oito chefes de governos caribenhos  vindos expresso para encontrá-los. Agora em julho de 2014, aproveitando outra vinda às Américas, para a reunião dos BRICS, Xi Jinping organizou nova série de contactos. No segundo dia da sessão dos BRICS (16.07), Xi deslocou-se de Fortaleza para Brasília com os outros líderes, a fim de encontrar os governantes dos doze países da America do Sul (Suriname e Guiana incluídos). Era a primeira vez que os países da UNASUL fugiam das divagações políticas para um encontro de dimensão econômica, com parceiro de peso – a China. De acordo com dados da CEPAL (reproduzidos pelo VALOR, 17.07.14), entre 2000-2012 a China deixou de ser o 36% mercado das exportações colombianas para se tornar o segundo; o décimo segundo das exportações brasileiras para se tornar o primeiro; do sexto para o terceiro nas exportações argentinas; do quinto para o primeiro nas exportações chilenas; do quarto posto para o primeiro nas exportações peruanas.

A 17 de julho, Xi Jinping deu início à sua visita de Estado ao Brasil. Na preparação da visita ele havia pedido um encontro com os Chefes de Estado da Comunidade de Estados Latino Americanos e Caribenhos (CELAC), e a Presidente Dilma Rousseff pôde atendê-lo acima das expectativas, aproveitando a presença em Brasília de todos os sul-americanos, mais quatro dirigentes da CELAC, sendo que o Equador contou duas vezes. Foram quinze países, a que a China apresentou planos de ajuda especialmente para obras de infraestrutura. Uma nova área prestes a explodir em países exportadores de todo tipo de insumos, que precisarão ser produzidos e circulados para a nova revolução urbana da China. No encontro da CELAC foi acertado reunir em Pequim, em janeiro de 2015, o primeiro Fórum China, América Latina e Caribe. A Presidente Dilma tirou proveito da grande movimentação de governantes do Hemisfério para ressaltar o papel do Brasil como a porta de entrada da China nesta região. No plano bilateral, a visita de Xi ao Brasil rendeu a assinatura de 32 acordos de intensificação da cooperação entre os dois países, em setores destacados pelo próprio Presidente chinês: petróleo, energia elétrica, minério de ferro e agricultura. Dois dos principais problemas que emperravam as relações bilaterais puderam ser desatados: a suspensão do embargo à carne brasileira no mercado doméstico chinês; e a produção de aviões pela EMBRAER na fábrica construída desde 2002 na China. Merece relevo, também, a parceria firmada entre a China Railway Construction Corporation e a Camargo Correia para estudar a viabilidade de investir no PIL, o programa de investimentos em logística do Governo Federal,

No plano bilateral, merece também relevo a passagem de Xi pela Argentina, país que não hesitará em disputar com o Brasil o papel de porta para a China na América Latina. Em 2012, quando o antigo Primeiro Ministro Wen Jiabao visitou Buenos Aires, Cristina Kirchner improvisou uma teleconferência com governantes da América do Sul e o visitante. Nos quatro anos de lá decorridos, a Argentina, que tem reduzido compras no mundo inteiro, aumentou em 64% as importações da China; empresas chinesas começaram a ganhar licitações em obras públicas de infraestrutura e logística. Na visita de agora, a Presidente aproveitou a presença de Xi para o lançamento de duas importantes hidrelétricas com investimentos chineses.

Créditos de imagem: fao.org

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