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“Seu primeiro ano foi uma lua de mel. Ouvia as denúncias contra seus ministros e os demitia, se  fosse o caso. Depois de vários mandatos presidenciais em que a opinião pública sentira uma   certa leniência em casos tais, Dilma Rousseff adquiriu a fama de gestora rigorosa e honesta.  Nos anos seguintes, porém, essa imagem cedeu lugar à de intransigente, mal humorada e até ríspida”.

(‘O dilema sobre Dilma’ | Renato Janine Ribeiro /.Valor Econômico, 28.4.2014).

No passado recente, principalmente no início da gestão de Dilma Rousseff, a parcela mais poderosa da mídia nacional investiu na formação de uma determinada imagem política – bastante positiva – para a presidente da República.

A estratégia mudou na atual fase de pré-campanha eleitoral: este mesmo segmento do setor das comunicações – que antes incensava Dilma – está agora fortemente empenhado na desconstrução da imagem positiva da presidente.

Focadas nesta tarefa de destruição, as editorias de economia tendem a amplificar problemas conjunturais (a inflação, por exemplo) e a minimizar superações históricas (como a inclusão social). Nos jornais prepondera a discussão de problemas conjunturais, sendo relegadas aos cadernos especializados as questões muito mais importantes para o futuro da sociedade, como o espectro de crise energética e a real escassez de água (que ameaça São Paulo), fatores que impactarão, no curto e no médio prazos, tanto decisões de investimentos como nível da atividade econômica.

Seguindo o ‘script‘, o jornal ‘Valor Econômico’, nas edições de quinta e de sexta feira (24-25/4/14), retomou as especulações a respeito da substituição de Guido Mantega, no Ministério da Fazenda. As fontes dos boatos seriam ligadas ao comando da campanha reeleitoral da Presidente da República […e não foi a primeira vez que setores do governo esboçam respostas que “agradem” seus detratores, na inútil expectativa de apaziguá-los…].

Este movimento foi a mais recente (e precária) manifestação a propósito dos problemas conjunturais da economia brasileira, que tende a manter fraca trajetória de crescimento (abaixo dos 2%, em 2014) associada a fortes pressões inflacionárias que ameaçam colocar o IPCA acima do teto da meta, neste ano. [A população e os empresários estariam insatisfeitos e os governistas temeriam perder o respaldo político, além de não receber recursos financeiros para bancar a campanha eleitoral de 2014 e de até mesmo ter que vivenciar o risco de ver minguar a votação em redutos históricos da situação].

A briga em torno deste poderoso Ministério é pendenga que se arrasta há muito, e que se intensificou no período da reforma ministerial do último verão (e que deverá ser o núcleo da disputa interna da campanha pela reeleição de Dilma Rousseff).

Embora ameaçador este não é o único problema politico do governo! A oposição conseguiu uma liminar no STF, autorizando a instalação de CPI exclusiva para investigar as denúncias envolvendo a Petrobras. Como os adversários da reeleição pretendem transformá-la no palco principal da disputa presidencial – ao menos até o início do horário de propaganda eleitoral via TV e rádio – a estratégia adotada pela base parlamentar governista é: (a) protelar a instalação desta CPI (utilizando meios diversos: recorrendo ao plenário do STF, esgotando todos os prazos regimentais, etc); (b) iniciados os trabalhos da Comissão, o governo pretenderia manter o processo sob controle, através da indicação de parlamentares fiéis para compor a CPI; e, (c) investir na criação de outra Comissão Parlamentar de Inquérito, visando investigar denúncias relacionadas à gestão administrativa regional dos demais partidos competidores à Presidência da República.

A situação conjuntural de adversidades que atinge o governo e seus aliados completa-se com a crise que envolve o deputado André Vargas (PT/PR), que foi instado a renunciar ao mandato para estancar a sangria imposta tanto ao governo quanto ao partido e a candidata á reeleição, mas que persevera na deliberação de permanecer na cena politica, podendo causar estragos irreversíveis às postulações eleitorais (o exemplo mais recente é o affair que atualmente põe sob risco a viabilidade da candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo estadual paulista).

Em suma, o quadro geral – econômico, político, social – configura uma situação que tende a causar maiores desgastes à candidatura presidencial petista. É neste contexto que Dilma Rousseff pouco pôde comemorar a sua maior vitória politica neste mês de abril: a aprovação do Marco Civil da Internet, que o governo conseguiu articular mesmo em meio a forte rebelião de sua base parlamentar. Muitos analistas políticos relacionam este tento marcado pela Presidente à exitosa troca de guarda na área da coordenação institucional do governo, que atribuiu aos ministros Ricardo Berzoini e Aloizio Mercadante a missão de estabelecer novas formas de relacionamento do governo com a sua conflagrada base de apoio no Congresso Nacional.

Créditos de imagem: DAIM

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