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Por Marcio Juliboni

 “Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ´ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca´. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.” Romero Jucá, Ministro do Planejamento do Governo Interino  “Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais.” Sérgio Machado, ex-Presidente da Transpetro

 

Trecho da conversa entre Jucá e Machado, de conhecimento do Procurador Geral da República. In: Blog Migalhas 3868. 23/05/2016

 

Com pouco mais de uma semana, o governo do presidente em exercício Michel Temer sofre seu primeiro bombardeio importante: a divulgação, pelo jornal Folha de S.Paulo, de gravações de conversas entre o ministro do Planejamento, Romero Jucá, e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Nos diálogos, Jucá afirma que apenas a saída da presidente afastada, Dilma Rousseff, abriria caminho para um “pacto” capaz de salvar todos os políticos da Operação Lava Jato.

De acordo com a Arko Advice, consultoria de análises políticas, a situação é “potencialmente explosiva” para o governo Temer por quatro motivos. O primeiro e mais óbvio é que ele reforçará o discurso do PT e de Dilma, de que o impeachment é um golpe e que todo o processo foi conduzido apenas com fins políticos: o de afastar Dilma e colocar alguém capaz de proteger os envolvidos na Lava Jato.

Segundo: Jucá é uma peça central da equipe econômica. Caberia a ele, como ministro do Planejamento, negociar com o Congresso a aprovação das medidas que o seu colega da Fazenda, Henrique Meirelles, está elaborando e cujo anúncio estava previsto para esta terça-feira (24). O principal objetivo das medidas é estancar a sangria das contas públicas, cujo rombo pode chegar a R$ 170,5 bilhões neste ano. Segundo a Arko, isso torna mais difícil a aprovação das reformas.

Terceiro: a Arko destaca que o vazamento das gravações ocorre após um fim de semana de mobilização contra o governo Temer. As manifestações ocorreram, por exemplo, na cidade de São Paulo, tendo como cenário a Virada Cultural paulistana. Para a consultoria, “a reportagem pode alimentar novos protestos e aumentar a dificuldade de Michel Temer de conquistar apoio popular.”

Por último, quanto mais Temer apoiar Jucá, mais reforçará a imagem de que endossaria, de fato, o “pacto” defendido por seu ministro para conter a Lava Jato. Para a Arko, o ideal seria que Jucá pedisse demissão, voltasse ao Senado e se defendesse de lá. Sua vaga no Planejamento poderia ser preenchida por José Serra, hoje chanceler de Temer.

Na entrevista coletiva que concedeu na manhã desta segunda-feira, porém, Jucá mostrou-se irredutível quanto à possibilidade de se demitir. Afirmou que o cargo pertence ao presidente Temer e somente ele pode decidir por sua saída. Declarou que se sente empenhado em aprovar as medidas e que o próprio mercado endossa sua permanência, ao ensaiar uma queda diante da possibilidade de sua saída”.

Leia trechos do diálogo publicados pelo jornal FSP: http://bit.ly/25aQYkv

 

O financista [http://www.financista.com.br]: 23/05/16

Marcio Juliboni. Jornalista.


Imagem:  Vivian Reis/G1

 

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