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“A gente faz acordo com quem a gente não gosta. Com quem a gente gosta, não precisa de acordo”. (Luis Inácio Lu da Silva. Folha de S. Paulo, 14.2.15). 

A política de comunicação do governo Rousseff tem fracassado na defesa das primeiras medidas, ações e decisões do segundo mandato da Presidente. Em breve conversa com Tereza Cruvinel, o ministro Jaques Wagner buscou apresentar a versão governista sobre a conjuntura nacional. 

Falando sobre a economia brasileira, o ministro Wagner procura reverter a visão negativa que o pacote do ajuste fiscal assumiu desde seu anúncio em dezembro de 2014. Diz ele: – “Houve uma crise mundial e foi feita aqui, no Brasil, uma política anti-cíclica que teve custos. Para manter o alto nível de emprego, o crédito, os investimentos públicos em curso e a economia fora da UTI, o governo queimou energias. Agora precisa fazer um pit stop e acertar a máquina para arrancar de novo. Isso é o ajuste fiscal e assim precisa ser compreendido por todo mundo”.

Ao abordar a questão política, Jaques Wagner “reconhece as dificuldades do momento, mas diz acreditar que o governo pode superá-las, recompor sua base de apoio no Congresso, atravessar a fase de ajuste e voltar a produzir resultados positivos para o país. Não acredita que a oposição esteja mesmo apostando no impeachment da presidente por inexistirem, a seu ver, condições jurídicas e políticas”. (Tereza Cruvinel, Brasil247: 13.2.15). 

Na realidade, o PMDB transformou-se no principal problema político do segundo mandato de Dilma Rousseff. Para Luiz Werneck Vianna, “o PMDB é chave. Ele está mais encorpado e autonomizado agora em relação ao governo. O Partido percebeu que estava sendo alijado pelo governo e esse foi um dos motivos, inclusive, que propiciou a maciça adesão, por parte do PMDB, à candidatura de Eduardo Cunha (a Presidência da Câmara dos Deputados). Enfim, as urnas apontavam para o fato de que o PMDB tinha se fortalecido, mas a Presidente não reconhece o fato e montou um ministério com uma influência reduzida do PMDB, e o Partido reagiu.

Além do fato de Eduardo Cunha agrupar em torno dele todas as demandas corporativas sa classe política (e também de agrupar a reação a agenda comportamental de alguns setores, como o tema da sexualidade, do aborto). Então, Cunha se tornou um candidato muito poderoso por vários motivos: ele tem uma agenda política, uma agenda corporativa e uma agenda das questões comportamentais. Agora, a Presidente vai ter de saber coexistir e conviver bem com ele. A situação é preocupante”. (IHU: 13.2.15). 

“A rebelião do PMDB tem dado trabalho a Dilma na Câmara. Após ganhar a presidência da Câmara, o Partido colocou na presidência da Comissão Especial da Reforma Política um representante do DEM (Rodrigo Maia) e escolheu como líder um deputado que fez campanha presidencial para Aécio Neves (Leonardo Picciani)” (O Globo: 13.2.15). Mantendo a pressão, Eduardo Cunha decidiu ‘convidar’ todos os 39 ministros de Dilma para prestar esclarecimentos na Câmara (enquanto os peemedebistas atravessavam a semana ameaçando preterir o PT da mesa diretora da CPI da Petrobras). O ápice deste processo foi a sugestão de que seria “possível a aprovação da chamada ‘PEC da Bengala’, que adia de 70 para 75 anos a idade limite para servidores públicos; ela impedirá que Dilma tenha o prazer de escolher cinco novos membros do Supremo Tribunal Federal” (Luiz Garcia – O Globo: 13.2.15). 

Por isso, Dilma Rousseff foi a São Paulo para encontrar-se com Luis Inácio Lula da Silva. Eles conversaram durante três horas e Lula teria recomendado a Dilma que buscasse a conciliação com sua base parlamentar, na tarefa de conter a crise política que ameaça alastrar-se. Lula “defendeu à presidente Dilma Rousseff que o Palácio do Planalto levante uma ‘bandeira branca’ e acerte suas diferenças ‘o mais rápido possível’ com o presidente da Câmara. Na avaliação de Lula, segundo relatos de assessores presidenciais obtidos pela Folha de São Paulo, o governo tem a difícil tarefa de estabilizar a inflação e fazer o ajuste fiscal e, por isso, não pode viver em “guerra” com o Congresso. Lula criticou a condução da articulação política do governo, especialmente na derrota de Arlindo Chinaglia” (Andréia Sadi – Folha de São Paulo: 14/2/15). 

A prioridade da Presidente é chegar a um acordo para aprovar o pacote fiscal na Câmara dos Deputados, pois a possibilidade da perda do grau de investimento do Brasil já é tratada como inevitável por parte de analistas conservadores, que já começam a desenhar cenários com dólar a R$ 3,20, ainda este ano, e uma possível rejeição das medidas poderia antecipar condições muito adversas para a gestão da economia, na medida em que fica muito clara a inexistência de um Plano B alternativo à política econômica conservadora adotada desde o início de janeiro.

Há insatisfação à direita e à esquerda, seja quanto ao aumento das receitas públicas, seja com relação ao corte do gasto social. 

Como, doravante, o Parlamento tende a estabelecer (de forma mais independente do Poder Executivo) a sua própria agenda, resta a Dilma Rousseff a busca de entendimentos com os partidos políticos, os sindicatos e os demais representantes da sociedade, se quiser implementar suas políticas de governo. Enfim, a coordenação política do governo deverá adaptar-se à  nova realidade política, onde mesmo um mau acordo poderá ser muito melhor que uma boa demanda para todos os envolvidos neste imbróglio…


Créditos de imagem: sudoestehoje.com.br

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