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Os gritos vêm dos palanques da campanha eleitoral que ainda não foram desmontados.

Os eleitores da oposição seguem lamentando os resultados da eleição presidencial. Os setores mais organizados da direita foram às ruas de algumas metrópoles, protestando contra a reeleição de Dilma Rousseff, arguindo a legitimidade do pleito, pedindo o impeachment da Presidente e reivindicando a reversão do atual regime político à ditadura militar.

Mesmo mobilizando reduzido número de pessoas, os direitistas continuam entusiasmados e anunciam novas manifestações para o feriado de 15 de novembro, próximo.

Os sussurros vêm dos bastidores políticos. Governo e oposição buscam reorganizar as forças políticas, a partir dos ganhos e perdas decorrentes das eleições para os poderes Executivos e Legislativos.

Dilma quer manter a base governista, composta por oito legendas principais: PT, PMDB, PSD, PR, PP, PROS, PCdoB e PDT. Para isto, precisa recompor seu ministério de forma equilibrada, contemplando os partidos políticos de acordo com a representatividade conquistada nas urnas de 2014.

Boa parcela do PMDB está rebelada, exigindo benesses, rejeitando parcerias, impondo agendas. Dilma tenta administrar o conflito recorrendo a seus aliados neste campo, como, por exemplo, Michel Temer e alguns dos governadores recém-eleitos pela legenda (Luiz Fernando Pezão, por exemplo, esteve com a Presidente, esta semana).

Como a participação do PMDB na base parlamentar do governo é fator estratégico para garantir a governabilidade, Dilma precisará negociar com os rebeldes a partir de uma posição de força. Para isto, conta com o fortalecimento de dois de seus aliados: Cid Gomes (PROS) e Gilberto Kassab (PSD).

A Presidente aposta numa rearticulação partidária que estaria sendo proposta pelos dois líderes governistas, capaz de capturar parlamentares eleitos por legendas outras que estão fora da base. Assim, Cid Gomes atuaria pela centro-esquerda e Kassab à centro-direita, buscando reduzir o peso parlamentar do bloco de oposição e auxiliando Dilma no esforço de moderar o apetite dos peemedebistas por postos ministeriais no quarto governo do Partido dos Trabalhadores.

A oposição não está inerte. Ao contrário: organiza-se a partir de sua fortalecida base no Senado, alimentando a dissidência interna do PMDB, emulando um redesenho partidário que fortaleça os combalidos aliados do DEM (que cogita fusão com o Solidariedade) e do PPS, e apostando na volta das negociações que visavam a constituição do famigerado ‘Blocão’, aglutinação de legendas partidárias que se caracterizou por demandas fisiológicas (um fenômeno que alimentara o noticiário político do início deste ano e que foi um dos recursos utilizados para pressionar o governo federal na disputa pela indicação de ministros na reforma ministerial do Verão de 2014; ver “Um ‘b(l)ocão’ carnavalesco?” (https://rogeriocerqueiraleite.com.br/2014/03/um-blocao-carnavalesco/).

Paralelamente, a oposição continua contando com a pauta dos principais representantes da mídia para manter a “corda esticada” no que tange à nomeação do novo ministro da Fazenda. Tanto a divulgação do resultado negativo das contas do governo como do aumento dos combustíveis, passando pelo déficit da balança comercial, foram o destaque dos comentários dos “analistas” das redes de TV e jornais, amplificando resultados mais do que esperados pelo mercado, fomentando o clima de “estelionato eleitoral”.

Aqui vale destacar que o esperado tarifaço reduziu-se a um aumento de 3% da gasolina e 5% do óleo diesel, bem abaixo da inflação do período. Sobre as contas públicas, o propalado desequilíbrio não deriva de excesso de gastos supérfluos, pois mesmo reconhecidos economistas de oposição não acreditam existir espaço para cortes de gastos e sugerem apenas maior rigor com gastos do seguro desemprego e revisão da política de pensões do País. Já o déficit comercial é creditado a queda do preço das commodities, fruto da diminuição do ritmo do comércio internacional influenciado pelo baixo crescimento da economia da China aliado  a questão estrutural da política cambial adotada pelo governo nos últimos anos.

A situação da economia é complexa, mas um indicador importante que é o nível de emprego continua a demonstrar sinais de dinamismo. Ao mesmo tempo a Presidente continua reafirmando que fará o ajuste necessário para a retomada do crescimento econômico sem desempregar e nem arrochar os salários.

Agora resta ao prezado público esperar para ver qual é a resultante de toda esta movimentação política de final do ano e de encerramento da primeira gestão presidencial de Dilma Rousseff.


Créditos de imagem: jornalggn.com.br

 

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