Em Conjuntura Internacional, Destaques

Por José Vieira

Os meios de comunicação social apresentam o governo sírio e a Rússia como os maus da guerra civil que envolve o país há mais de quatro anos com um saldo horroroso: 250 mil mortos e 11 milhões de deslocados interna e externamente.

Que o Exército Livre da Síria e os Estados Unidos são os bons da fita, porque combatem o regime iníquo de Bashar al-Assad que usou armas químicas contra a população civil de East Ghuta (nos arrabaldes de Damasco) a 21 de agosto de 2013, matando muitas crianças.

Que Assad e os russos bombardeiam colunas de camiões do Crescente Vermelho com ajuda humanitária e destroem a cidade de Aleppo, a segunda maior do país e a mais importante em termos económicos.

Freiras católicas que vivem na Síria contradizem a narrativa oficial! E deixam-me confuso…

A Ir. Guadalupe, uma missionária argentina que vive na Síria, revelou num encontro público em Espanha que as manifestações de apoio a Assad no início da guerra civil foram reportadas pelos media estrangeiros como sendo contra o presidente.

Que a oposição ao regime sírio é liderada por jiadistas estrangeiros que à boleia da Primavera árabe tentam depor Assad.

Que a Síria era um país com elevados níveis de bem-estar e harmonia social antes da guerra civil, apesar de ser uma ditadura, e que os jiadistas estrangeiros arruinaram o país, vestindo a pele de vítimas da guerra civil.

Que os grupos muçulmanos que combatem Assad têm uma agenda secreta: acabar com os cristãos na Síria.

A Ir. Myri, uma monja portuguesa a viver num mosteiro de Qara, na Síria, fala dos russos como os amigos dos sírios e dos cristãos, que os defendem do fundamentalismo islâmico e da matança dos cristãos.

A Ir. Agnes Mariam, uma monja católica libanesa da Ordem da Unidade de Antioquia superiora do Mosteiro de Qara, na região de Homs, no centro da Síria, publicou um estudo a denunciar que os vídeos do ataque químico a Ghuta são falsos.

Que as crianças supostamente gaseadas por Assad foram mortas pelos radicais muçulmanos noutro ponto do país e usadas para fins de propaganda.

Que nas imagens só aparecem crianças – as mesmas em localidades diferentes e em posições diferentes, mas com as mesmas roupas.

Que nos vídeos só aparecem homens adultos (supostamente jiadistas) não representando o fabrico social do país.

Que algumas imagens são do Egito.

Alguns sectores acusam a monja de ser pró-presidente Assad e sua propagandista, o que ela desmente.

Os vídeos do suposto ataque químico a Ghuta foram usados como argumento para legitimar o envolvimento da comunidade internacional na guerra civil síria.

Fazem-me lembrar a evidência que o general Colin Powell apresentou na ONU em 2003 sobre as capacidades nucleares e químicas do Iraque – que eram puras fabricações mas serviram (e bem) para justificar a invasão do país, matar Sadam e deixar a região numa grande confusão.

O último rebento da crise do Iraque é o Estado Islâmico ou Daesh, que nasceu e cresceu numa área não controlada pelas forças do governo e depois apanhou a estrada da Síria.

Por detrás da propaganda sobre a guerra civil síria há também uma possível conspiração escatológica: diz-se que os cristãos radicais americanos apoiam a fortalecimento de Israel através da destruição dos países vizinhos para apressar a última vinda do Messias.”

Do FB JLC [http://bit.ly/2dy4TjQ]:28/09/2016.

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José Vieira. Superior Geral dos Missionários Combonianos.

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