Em Conjuntura Internacional, Destaques

Na edição de 25/11/2015, este blog publicou um rico artigo de Talmiz Ahmad, ex-Embaixador da Índia na Arábia Saudita, Oman e União dos Emirados Árabes [ver link http://bit.ly/1IkTBZM]. Como seja um pouco longo o artigo, com sua preocupação de reconstituição histórica, a mim me pareceu que valia a pena oferecer aos leitores uma rápida síntese, pondo em relevo o tema central do artigo. Talmiz Ahmad o escreveu em reação ao ataque terrorista de 13 de novembro de 2015, quando cerca de 130 pessoas foram mortas e centenas mais foram feridas, em sete alvos em Paris. A tese do autor é que o ataque terrorista de Paris culmina um processo iniciado na Síria e com sua origem em Washington.

Talmiz Ahmad lembra como após a tomada da cidade iraquiana de Mosul e outros territórios nos lindes do Iraque com a Síria, em junho de 2014, o ISIS (hoje mais conhecido como Estado Islâmico – EI) não vinha sofrendo revezes militares de importância, apesar dos ataques contra ele desfechados pela coligação EUA-Arábia Saudita. Ao contrário, consolidou-se gradualmente, ao ponto de converter-se num proto-Estado e proclamar-se o renascido Califado muçulmano. Na virada do terceiro para o quarto trimestre de 2015, no entanto, a situação mudou radicalmente, com a Rússia intervindo na guerra na Síria ao lado do governo Assad. Aviões russos passaram a realizar ataques letais contra todas as forças hostis a Assad, permitindo que forças sírias tomassem do EI a parte oriental da cidade de Aleppo, enquanto combatentes curdos começavam a bloquear o fluxo de armas e recrutas da Turquia para o Califado. Os ataques de Paris surgiram como reação, olho por olho, aos enfrentamentos dos últimos meses ligados diretamente ao conflito na Síria. E ponto digno de realce: marcando a primeira vez que o EI saía da Ásia Ocidental para organizar atentados no “inimigo distante”, no Ocidente, como fazia a Al Qaeda.

Chega-se, aí, à “conexão Washington”. “A atitude dos EUA” – frisa Talmiz Ahmad – “tem sido a mais débil e sem princípios”. Depois de fugir a envolver-se no conflito na Síria, preferindo secundar políticas da Arábia Saudita, na esperança de obter o apoio do Golfo ao acordo nuclear com o Irã, Washington vendo a movimentação da Rússia como ameaça à sua hegemonia global, entrou na refrega. Chegou a fornecer, a grupos terroristas, mísseis TOW a serem usados contra tanques russos. E Talmiz Ahmad leva mais longe sua crítica a Washington, trazendo à colação relatórios americanos recentes, como o do tenente-general Michael Flynn, que em agosto de 2015 relatou como em 2006, após o fracasso militar dos EUA no Iraque, o grupo de falcões americanos conhecido como neocons persuadiu o vice-presidente Dick Cheney a apoiar iniciativas para derrubar o regime de Assad, “criando uma cunha entre a Síria e o Hezbollah”. Segundo os relatórios em questão, o apoio da Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo aos jihadistas sunitas do Iraque iria metamorfosear-se na ISIS (EI). A publicação Conflicts Forum, que reproduziu o relatório Flynn, é categórica: “A jihadização do conflito sírio foi uma decisão política ‘intencional’ do governo dos EUA.”


Imagem: indiastrategic.in

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