Em Destaques, Vida Nacional

1 – O sutil

Por Jânio de Freitas (Jornalista)

Já em seu primeiro mandato, o presidente uruguaio Tabaré Vasquez projetou sobre o seu governo uma aura de dignidade. Não se duvide da irritação que lhe causou, como descrita pelo chanceler Nin Novoa, o que chamou de “tentativa de compra” do Uruguai por José Serra –acordos comerciais pelo veto uruguaio à Venezuela na presidência temporária do Mercosul.

Ou seja, no melhor da sua habilidade diplomática, José Serra quis aplicar ao Uruguai, combinados, dois métodos por ele conhecidos: o “é dando que se recebe”, do seu tempo de congressista, e o praticado pelas empreiteiras.

Os bons do Itamaraty começam a se desesperar.

FSP [ http://bit.ly/2bbQF2b]: 18/08/2016.

2 – Sob Serra, Itamaraty passa de bombeiro a incendiário

Por Kennedy Alencar (Jornalista)

Sob o comando do senador José Serra (PSDB-SP), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil deixou de ser bombeiro e passou a agir como incendiário – contrariando uma linha diplomática adotada, em maior ou menor grau, desde a redemocratização em 1985.

O Itamaraty tem contribuído para aumentar a crise do Mercosul. Brasil, Argentina e Paraguai se opõem à posse da Venezuela na presidência rotativa do bloco político e comercial. O Uruguai apoia a pretensão venezuelana. Há um confronto em curso que precisaria ser esvaziado, por se tratar de querela menor perante os desafios do Mercosul. No entanto, a contenda é alimentada pelo Brasil.

Tanto no governo FHC, correligionário de Serra, como nas administrações do PT, o Brasil teve boa relação com a Venezuela e procurou exercer um papel moderador, atuando para amenizar conflitos no país vizinho e também no subcontinente.

Hugo Chávez chamava FHC de “mi maestro” e considerava o tucano um aliado que lhe ajudou a enfrentar turbulências com os Estados Unidos e a Colômbia, por exemplo. Nos governos de Lula e Dilma, já havia muita crítica interna a Nicolás Maduro, presidente que sucedeu Chávez e agravou a crise venezuelana.

O Itamaraty precisa entender que Maduro, acossado pelo avanço do referendo revogatório, passará em breve. Já a Venezuela continuará a existir e voltará a ser um mercado importante para o Brasil e seus parceiros do Cone Sul.

Hoje, a Venezuela é um país em crise aguda, com indicadores sociais e econômicos semelhantes aos de nações em guerra. O Itamaraty deveria estar empenhado em construir condições para diminuir essa catástrofe. No entanto, pega bem bater no fantasma bolivariano, sobretudo para quem tem pretensões políticas. Isso agrada a um segmento conservador da opinião pública brasileira. Dá manchete, ainda que seja atitude equivalente a chutar cachorro morto.

O governo interino não chegou ao poder para mudar a política externa. A ascensão de Michel Temer ocorreu a fim de dar respostas às crises econômica e política, que são domésticas. Abrir demais o leque pode ser arriscado, mas isso é tema para outro texto.

É um erro o Brasil adotar a diplomacia do porrete com a Venezuela. Deveria buscar uma solução consensual e equilibrada. Aquela linha defendida por Chico Buarque é a correta: o Brasil não deve falar fino com os Estados Unidos, nem grosso com a Bolívia e o Paraguai. Deve falar de igual para igual, exercendo na América Latina uma liderança natural pelo seu peso geopolítico, moderada por respeito à sua tradição e positiva para produzir resultados concretos.

Blog do Kennedy [http://www.blogdokennedy.com.br/]: 18/08/2016.

Ilustração do cartunista Renato Aroeira.


Imagem: Aroeira

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