Em Destaques, Escrita'10

Nascido em 1914, Carlos Lacerda completaria 100 anos de idade, em 2014.

A partir da década de 1930, ele foi um dos protagonistas da vida nacional, com atuação marcante na política, no jornalismo e no universo intelectual brasileiro. Foi vereador, deputado e governador do estado da Guanabara. Foi jornalista, foi dono de jornal e fundou uma casa editora.

Rodrigo Lacerda, seu neto, escreveu um romance (‘A república das abelhas’, Companhia das Letras, 2013), para contar a trajetória de vida de Carlos. Aliás, é o avô quem narra a obra, que retrata três gerações de políticos da família: Sebastião Lacerda (1864-1925), Mauricio de Lacerda (1888-1959) e Carlos Lacerda (1914-1977).

À maneira de Machado de Assis – de ‘Memórias póstumas de Brás Cubas’ – Rodrigo optou por fazer de um morto o narrador-memorialista: o foco narrativo é feito na primeira pessoa e transcorre nos dias que se seguem à morte de Carlos.

Carlos Lacerda descreve a própria morte, velório e enterro, passando a recordar a intensa existência vivida por ele, por seu pai e por seu avô (e um pequeno espaço é reservado para um ascendente: Inácio de Souza Werneck, que viveu na segunda metade do século 18).

São cerca de dois séculos de história, em que se associam as existências individuais à vida coletiva. E nela ficamos sabendo que Inácio Werneck foi oficial militar e um dos responsáveis pela ocupação colonial de região do rio Paraíba fluminense; Sebastião Lacerda exerceu cargos eletivos (Prefeito) e foi ministro do Supremo Tribunal Federal; Mauricio de Lacerda, o mais famoso ascendente de Carlos, foi parlamentar combativo, cognominado ‘Tribuno do Povo’ durante a Primeira República (1889-1930).

A vida de Carlos é arquiconhecida: na juventude, a militância comunista; na sequência, o antigetulismo visceral; o ativismo jornalístico (inclusive com a criação de um jornal: a ‘Tribuna da Imprensa’); a fundação de legenda partidária (a UDN); a carreira política vitoriosa, sendo eleito, várias vezes, via voto direto, até perder seus direitos políticos na década de 1960, cassados pela ditadura militar que ele ajudou a implantar em 1964.

Rodrigo interrompe o relato dez anos antes do golpe de ’64 e faz Carlos posicionar-se sobre temas polêmicos, como – entre outros – qual teria sido a causa de sua morte, assunto que já rendeu muita polêmica entre os especialistas.

Dublê de profissional das palavras (escritor, editor) e historiador doutorado pela Universidade de São Paulo, Rodrigo maneja o arsenal de recursos técnicos de que dispõe para produzir uma obra relevante no panorama contemporâneo da Literatura Brasileira.

 

Créditos de imagem: gazetaonline.globo.com

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