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Cota Zero

Stop. / A vida parou / ou foi o

automóvel? 

Carlos Drummond de Andrade

O mercado de trabalho fragiliza-se, em 2015. O desemprego é maior, a massa salarial estagnou e — embora ainda cresça — a taxa de incremento da renda do trabalho é decrescente. Vejamos os números mais recentes:

O desemprego cresceu nos primeiros três meses de 2015 — a desocupação passou de 6,5% (no 4º trimestre de 2014) para 7,9% (no 1º trimestre de 2015);

A massa de rendimento estagnou, no mesmo período — a massa de rendimento médio real dos ocupados totalizou R$ 164 bilhões, valor ligeiramente menor que o registrado no 4º trimestre de 2014 (-0,2%).

O rendimento médio real cresceu no primeiro trimestre — atingiu R$ 1.840, em 2015 (0,8% superior ao valor — R$ 1.825 — do 4º. trimestre de 2014).

O problema é que, pelo menos desde 2013, o rendimento dos brasileiros cresceu a taxas decrescentes: 3,3% na média em 2013, 1,5% na média em 2014 e 0,8% na média no primeiro trimestre de 20151.

O ajuste fiscal pretendido por Dilma & Levy — discutido esta semana na Câmara dos Deputados — deve potencializar as tendências recessivas do mercado de trabalho. No primeiro passo, o governo foi vitorioso: os Deputados aprovaram a MP 665, que altera regras de acesso a benefícios trabalhistas (como o seguro-desemprego).

Eufórico, o líder do PT — o deputado José Guimarães — vaticina que:

“a aprovação da proposta e a manutenção do texto produzido pela comissão mista, que analisou a medida antes de enviá-la à Câmara, passam um “sinal muito positivo para a economia” e demonstram que a presidente Dilma Rousseff ‘volta a ter governabilidade’;

Ele crê que “foi uma votação estratégica e fundamental para o país… Unificamos a base, construímos pontes com a oposição, construímos pontes para não ter obstrução, foi uma grande vitória”, como afirmou após a votação”; e,

Ainda segundo Guimarães, “o plenário da Câmara deve iniciar a discussão de outra MP do ajuste (a 664, que altera regras de acesso a benefícios previdenciários)” (Brasil Econômico, 7/5/15).

Tal entusiasmo com o ajuste fiscal explica-se: desde Lula, governos petistas têm “pavor” de processos de aceleração inflacionária (o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo/IPCA acumulou em 12 meses (até abril/2015) alta de 8,17%, informou na sexta-feira o IBGE). Parafraseando Mario Henrique Simonsen, talvez os dirigentes do PT considerem que o desemprego aleija, mas o custo de vida mata. E para controlar a explosão dos preços, topam executar políticas econômicas ortodoxas. Mesmo que impliquem em prejuízos diversos para parcelas significativas da base social do PT.

Ajustes conservadores, como o pretendido pela atual política econômica, normalmente são acompanhados por políticas públicas compensatórias para evitar consequências mais danosas do ponto de vista social, justamente ao contrário do que pretende o atual conjunto de medidas em discussão na Câmara e Senado.

Paralelamente à “vitória” no Parlamento (com inestimável ajuda de votos do campo oposicionista), o Banco Central , via Conselho de Política Monetária (Copom), publicou ata de reunião onde não indica o fim do ciclo de alta dos juros que a cada aumento de 0,5 eleva a despesa pública em torno de R$ 8 bilhões. Nesse cenário de juros estratosféricos os bancos continuam apresentando resultados trimestrais onde os lucros batem recordes históricos.

Além disso, juros altos para combater inflação gerada por aumentos de preços administrados pelo próprio governo beira à insanidade, pois terá como principal efeito uma redução ainda maior no ritmo da atividade econômica.

A contrapartida dialética de tanto entusiasmo do governismo é a irritação de lideranças sindicais. Ante a perspectiva de muitas perdas & danos para o mundo do trabalho, os dirigentes classistas optam por responder com a agitação vazia de palavra-de-ordem (greve geral) de difícil execução neste momento. A mais recente decisão das centrais sindicais foi definir o dia 29 de Maio como o ‘Dia de Paralisação Nacional’.2

Sem melhores alternativas nesta conjuntura, a ‘marcha da insensatez’ prossegue. No rumo da ampliação da crise, ‘dentro da noite, veloz’.

Fonte: PNAD Continua, 1º. Trimestre 2015/IBGE,7/5/15. Link: http://twixar.me/8nz

2 A CUT e o ‘Dia Nacional de Paralisação’ em 29 de maio. Página 13. Link: http://www.pagina13.org.br/sindical/em-circular-cut-apresenta-orientacoes-praticas-para-o-dia-nacional-de-pralisacao-em-29-de-maio/#.VUy1M2K9KSM].


Créditos de imagem: sindipetroalse.org.br

 

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