Em Destaques, Vida Nacional

Desde a segunda quinzena de março, quatro pesquisas de opinião eleitoral esquadrinharam o panorama da sucessão presidencial de 2014.

São convergentes os números divulgados pelos institutos Ibope (com duas pesquisas de campo; a primeira foi feita entre 13 e 17/3/14 e a mais recente entre 10 e 14/4/14), Datafolha (nos dia 2 e 3/4/14) e Vox Populi (entre 6 e 8/4/14).

Para o historiador Kenneth Maxwell, “a disputa pela Presidência da República já se tornou muito mais aberta e imprevisível do que parecia provável em um passado recente. O impacto cumulativo de múltiplos escândalos, justa ou injustamente, por certo já está causando estrago à reputação de todos os principais candidatos”. (Folha de S. Paulo, 17/4/14).

Em linhas gerais, poderíamos dizer que as pesquisas recentes indicam que:

  • O governo Dilma Rousseff é aprovado por cerca de 1/3 dos entrevistados. E isto aparece refletido nas taxas de apoio à reeleição da Presidente, que registra números ligeiramente superiores (na faixa entre 37-40%);
  • Todos os prováveis candidatos que serão adversários da reeleição de Dilma Rousseff somam de um quarto a um terço das preferências eleitorais registradas nas amostras pesquisadas. Estes dados também podem ser considerados como compatíveis com os números referentes à reprovação ao governo do PT (da ordem de mais de 1/4 dos entrevistados nas enquetes do mês); e,
  • Há cerca de 1/3 do eleitorado que não estaria manifestando preferência por candidatos à sucessão presidencial. O desinteresse pela Política e o desalento com a atuação dos políticos poderia ser uma das explicações para esta taxa de alienação do processo.

Para incluir as eleições na pauta da sociedade, os candidatos movimentam-se no  cenário político e Dilma/PT, Aécio/PSDB e Eduardo/PSB estão a promover variadas atividades de pré-campanha.

O senador Aécio Neves, estacionado nas intenções de votos das enquetes do mês (com algo entre 13-16%), está focando seu marketing eleitoral nas críticas e denúncias que faz ao governo, tanto no Parlamento quanto na mídia. A batalha pela criação da CPI da Petrobras é sua prioridade do momento. Ele tem associado a estas ações – em âmbito nacional – a um trabalho de articulação política regional, atuando nesta última semana principalmente em regiões onde há graves fissuras na base governista: Aécio esteve na Bahia – para consolidar a aliança eleitoral dos adversários do governador Jaques Wagner/PT – e no Rio de Janeiro, buscando introduzir uma cunha no conflito interno do PMDB fluminense.

Eduardo Campos, que perdeu sua grande vitrine – teve que renunciar ao governo de Pernambuco para poder disputar o pleito de 2014 -, continua sendo um político desconhecido para significativo segmento do eleitorado e está registrando frágil apoio popular à suas pretensões presidenciais (na faixa entre 6-10%, nas pesquisas deste último mês). Para enfrentar este repto, o PSB antecipou o lançamento da pré-candidatura de Marina Silva à Vice-Presidência da República, visando angariar maior apoio à candidatura presidencial de Eduardo Campos junto aos simpatizantes da ex-ministra do Meio Ambiente (que mostrou força eleitoral no pleito de 2010, quando conquistou cerca de 1/5 dos votos válidos).

Dilma – sob cerco das oposições – traçou estratégia defensiva, procurando manter o patrimônio político de que atualmente dispõe e que tem potencial para conduzí-la a um segundo mandato. Na reforma ministerial do verão de 2014, a Presidente mudou seus articuladores políticos, compondo uma equipe renovada que precisará operar de forma coordenada com o time encarregado da gestão da campanha pela reeleição. Lula é a principal estrela nesta frente de trabalho político. E as atenções estão voltadas para dois objetivos: primeiro, defender a obra político-administrativo da gestão de Dilma Rousseff e garantir a sua continuidade e bom desempenho; e em segundo lugar, recompor a base política que dá sustentação ao governo, costurando – e recosturando… – as alianças partidárias e regionais, sem descurar do apoio junto aos movimentos sociais.

Numa perspectiva geral, até aqui, o quadro político desenvolve-se basicamente sob a mesma moldura legada pela conjuntura econômica – que tem sustentado níveis positivos de emprego, renda, crédito e consumo, mesmo em condições de contorno mais restritivas – e pelas mobilizações populares de Junho de 2013 que estabeleceram um novo clima na relação entre os Poderes da República e a população.

Segundo o jornalista Vinicius Torres Freire, “daqui até o momento em que os candidatos a presidente entrarão de fato em campo, após a Copa, a disputa dependerá grosso modo dos solavancos da popularidade de Dilma, pois o resto não se move. Parece óbvio que o prestígio da presidente dependerá: (1) Da quantidade de podres que vão saltar dos papéis que documentam o tráfico de influência em negócios relativos a Petrobras e outras malversações; (2) Do tamanho dos protestos do Junho da Copa […]. A inflação, que causou de fato danos à imagem da presidente, dificilmente tende a fazer estragos políticos adicionais, ‘na margem’, pois nem deve ir muito além dos 6% e já desagradou a muita gente. Talvez o sentido do contágio seja outro, da política para a economia”. (FSP, 17/4/14).

Aguardemos o que nos reservam as próximas semanas.

Facebooktwitter