Em Destaques, Vida Nacional

São múltiplos os tabuleiros nos quais o governo tenta desenvolver — simultaneamente — o seu jogo político. 

No tabuleiro do Congresso Nacional, o jogo do Palácio do Planalto visa compor Mesas Diretoras na Câmara e no Senado que sejam generosas com as demandas legislativas do Poder Executivo. Privilegiam duas proposituras : a do senador Renan Calheiros, que pretende ser reconduzido à Presidência do Senado (embora diga-se, também, que o PT estaria a emular outra candidatura peemedebista, a do senador Luiz Henrique); e a do deputado Arlindo Chinaglia (que quer retornar à Presidência da Câmara dos Deputados, posto que ocupou há anos). A oposição e dissidentes do governismo tentam bloquear esta estratégia, lançando candidatos alternativos nas duas Casas. E parecem ter boas possibilidades de vencer, ao menos na disputa pela direção da Câmara (onde Eduardo Cunha/PMDB e Julio Delgado/PSB teriam chances reais, se atuarem de forma articulada). 

Atravessamos momento politicamente delicado para o governo, que enfrenta uma forte rebelião em sua base de apoio. Exemplo paradigmático : a postura crítica da senadora Marta Suplicy, uma fundadora do PT que parece ter optado pela porta de saída da legenda (como também o fizeram Beth Mendes, Maria Luiza Fontenele, Luiza Erundina, Heloísa Helena, Luciana Genro…). O governo utiliza a reforma ministerial como arma neste processo, barganhando o preenchimento dos cargos de segundo escalão em troca de apoio para a disputa no Parlamento. E o desfecho da  peleja acontecerá imediatamente após a reabertura dos trabalhos no Poder Legislativo, em fevereiro. 

O segundo espaço de conflito também envolve, fundamentalmente, o top da sociedade brasileira, mobilizando setores da elite (e da contra-elite) política : autoridades de governo, parlamentares, mídia, intelectuais, empresários e sindicalistas. O tema é o ajuste fiscal, com cortes no gasto público e aumento de tributos, taxas, tarifas e contribuições. Com as medidas anunciadas em 19/01 parece que a adesão à ortodoxia é explicita , pois com aumento de impostos (combustíveis , empréstimos e cosméticos) o governo pretende aumentar sua arrecadação em R$ 20 bilhões. Isso não é tudo; aguarda-se para os próximos dias o anuncio de aumentos significativos nas tarifas de energia elétrica.

As providências adotadas até agora são tipicamente restritivas, ou seja, induzem a redução do crescimento da economia, pois retiram poder de compra das famílias. Junte-se a isso a forte estiagem e falhas de planejamento, prometendo uma crise de abastecimento de água sem precedentes no estado de São Paulo, certamente com reflexos negativos na atividade econômica. E agora o gargalo de oferta apresentado pelo setor elétrico, que indica que a infraestrutura do Pais está no limite, pois, mesmo com o PIB crescendo próximo de zero, as distribuidoras reduzirão a oferta de energia, outro fator negativo no nível de atividade econômica. Tudo indica que o Pais ingressará em um período de recessão, que é caracterizado pela redução de nível de emprego e renda, sendo que esse sacrifício não necessariamente levará à retomada da trilha do crescimento .

O terceiro tabuleiro localiza-se nas ruas. O “espírito de junho de 2013”, um vírus social recessivo, foi cutucado a partir dos reajustes tarifários de janeiro, que pressionaram os orçamentos domésticos da população (com maiores dispêndios com os transportes coletivos). Para André Singer, “o aumento das passagens na capital paulista foi feito de maneira que desconhece a força do novo tipo de mobilização social representado pelo Movimento Passe Livre (MPL). A Prefeitura argumenta que procedeu de acordo com as reivindicações de junho de 2013, entre outras coisas concedendo isenção de tarifa para estudantes de escolas públicas. No entanto, o prefeito Fernando Haddad deveria ter chamado antes o MPL e demais entidades interessadas no assunto para explicar e negociar publicamente o aumento, construindo opinião coletiva a respeito. Ao anunciar as novas tarifas de supetão e na calada das férias, subestimou o espírito do tempo”. 

Ainda é pequena a expressão de massas das manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus (que foram realizadas em diversas cidades). O futuro do movimento é  incerto, mas o MPL/SP parece motivado a seguir na mesma trilha.

Ante estes desafios da conjuntura, os articuladores políticos do governo não têm recursos estratégicos suficientes para definir a pauta nacional, limitando-se às táticas reativas. Assim, o governo busca ganhar tempo, na esperança de recuperar a iniciativa política ao longo do período 2015/2018. 


Créditos de imagem: fotosdahora.com.br

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