Em Conjuntura Internacional, Destaques

Na coluna de 15 de janeiro [http://bit.ly/1FDlm9A], registrei a existência de negociações secretas entre a equipe de Barack Obama e governantes iranianos, desenvolvidas paralelamente com as negociações ostensivas entre esses mesmos governantes e o P5+1 (os membros permanentes do Conselho de Segurança mais a Alemanha). Era um exemplo das jogadas inovadoras no campo geopolítico, usadas pelo presidente americano para compensar a situação de “pato manco” a que fora reduzido no plano doméstico.

As negociações ostensivas haviam levado à assinatura em Genebra em novembro de 2013, após 34 anos de afastamento diplomático entre EUA e Irã, de um acordo nuclear preliminar, visto como oportunidade para Washington promover reorganizações geopolíticas no Oriente Próximo. Oportunidade sem paralelo desde a Presidência Carter, mas que alarmou a Arábia Saudita, os Emirados Árabes e Israel, aliados insatisfeitos com as posições mais compreensivas de Obama em relação ao arsenal iraniano. Ao longo de 2014, várias rodadas das negociações ostensivas foram sendo realizadas, inicialmente na esperança de chegar a um acordo definitivo até novembro, mas depois com o adiamento desse prazo para junho de 2015. Segundo The Economist (01.11.14), quatro temas principais vêm dificultando o avanço das negociações: (1) a capacidade de enriquecimento do urânio a ser reconhecida ao Irã; discute-se aí qual o limite máximo para não deixar o Irã apto a obter material físsil para bombas; (2) clareza quanto ao trabalho do Irã no fabrico de ogivas nucleares; (3) quando poderão ser suprimidas as sanções em vigor contra o Irã; e (4) quanto tempo ainda ficará o Irã sujeito a constrangimentos em matéria nuclear, antes de obter o direito de ser tratado como um signatário “normal” do Tratado de Não Proliferação.

São grandes as diferenças em torno desses temas. Em termos práticos, na questão do enriquecimento procura-se definir quantas centrífugas poderá manter o Irã; enquanto Washington quer uma redução drástica, das cerca de 10 mil atuais para apenas mil e quinhentas, Teerã insiste por manter uma estrutura de enriquecimento que lhe permita controlar o número de centrífugas e sua renovação. No tocante às ogivas, os iranianos dizem nada ter a comunicar, e quanto às sanções, esperam ver a maioria delas suspensas quase imediatamente, diante da pretensão ocidental de um acordo de vinte anos, com o levantamento das sanções no final. Deseja, por fim, o Irã que os constrangimentos à sua “normalidade” não durem mais de cinco anos. A 15 de janeiro de 2015, o P5+1 reuniu-se com delegados iranianos para um dia de balanço sobre a marcha desses vários temas. EUA e Irã, ao que transpirou, haviam nos dias anteriores realizado conversas a porta fechada, na sede da Representação americana em Genebra, inclusive com um encontro entre o Secretário de Estado John Kerry e o Chanceler Mohamed Javad Zarif. Em Washington, Barack Obama fez pronunciamento, alertando para que não se criem novas sanções contra o Irã, a fim de não perturbar as negociações nucleares em curso. E assumiu um difícil objetivo para os EUA: “destruir o ISIS.” (Obama refuga a designação Estado Islâmico, usando esta sigla mais vaga)

Para viabilizar este último objetivo, há uma tendência entre os analistas internacionais a achar que é necessário agregar o Irã à coalizão estimulada pelos EUA. O autodenominado EI mexe com tantas tensões – Iraque vs Síria; xiitas vs sunitas; Irã, Turquia vs Arábia Saudita; as reivindicações dos curdos – que somente uma potência regional com o peso histórico e político do Irã poderá fornecer lastro para soluções factíveis. Teerã já adquiriu predomínio num corredor xiita que se estende até o Mediterrâneo, e foi, por exemplo, decisivo no congelamento do uso de armas químicas pelo regime de Bashar Assad, na Síria. Tanto o presidente do Parlamento em Teerâ, Ali Larijani, quanto o novo presidente do país, Hasan Rowhani, têm criticado “políticas erradas de alguns países ocidentais, responsáveis pela transformação do Oriente Próximo e da Ásia Central num paraíso para terroristas”. E vêm chamando a atenção para o impulso que o Irã poderá dar à luta contra o extremismo sunita. É a percepções desse tipo que Obama tem sabido dar eco, ligando-as sutilmente às negociações nucleares.


Créditos de imagem: exame.abril.com.br

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