Em Música

Por mais primitiva que seja uma sociedade, a música será parte integrante de suas manifestações religiosas ou meramente ocasionais. Muito cedo o Cristianismo adotou a música como parte integrante de suas reuniões e de suas manifestações religiosas. Com isso nasceram os cantos litúrgicos que inicialmente se diversificavam com a região. Carlos Magnus (768 – 814) percebeu o poder de agregação da música para a formação e estabilidade de seu império. Com isso o canto gregoriano é universalmente adotado, o que permitiu a elaboração da Missa em uma estrutura estável e homogênea, como a conhecemos hoje. Foi, portanto, uma decisão política que instituiu o primeiro gênero musical de sucesso universal no Ocidente.

O segundo ponto de inflexão na História da Música decorre também de uma decisão pragmática da Igreja Católica: a invenção do Purgatório (séc. XI). A dicotomia estrita céu – inferno impedia negociações da Igreja com pecadores. A introdução de um ente intermediário facilitou entendimentos tais como perdão de pecados e venda de indulgências. Com isso as igrejas enriqueceram, o que teve como consequência a possibilidade tanto de contratos com compositores leigos, como também a realização de Missas e outras festividades. Com novos compositores e a oportunidade de “espetáculos” mais imponentes o progresso musical foi significativo.

O terceiro momento de transição na evolução da Música Clássica ocorreu como consequência da revolução ideológica denominada Renascimento (séc. XIV), que liberou as artes e pensamento do império da Igreja Católica e que subsequentemente foi por ela incorporada. Com isso incorporaram-se à Música Sacra conceitos e meios próprios da música profana, o que resultou em maior liberdade de expressão e maior oportunidade de inovação, culminando com a exuberância do barroco e seus deliciosos excessos virtuosísticos.

Até então a Música, embora praticada tanto fora quanto dentro da Igreja, ainda era marcada pelo sentimento religioso, senão católico, com frequência, luterano, calvinista ou anglicano.

O próximo ponto de inflexão da História da Música vem do iluminismo (meados do séc. XVIII) e seu distanciamento das Igrejas. O modelo será o da literatura, a narrativa. O interesse na execução da Música deixa de ser localizado, mas se estende no tempo. No desenvolvimento do tema musical. Com isso nasce e passa a imperar a forma-sonata. A revolta contra os cânones do classicismo, a estrutura rígida da forma-sonata, a harmonia clássica não tardou e, já no Romantismo (séc. XIX), novas e importantes mudanças aparecem.

Todavia, somente se consolida uma verdadeira revolução conceitual em 1895 com a edição de “L’aprés midi d’un faune” de Debussy. Dai em diante até nossos dias mudanças sucessivas parecem ter estabelecido uma era de experimentações com progressos e reações, sem que um estilo característico pudesse se estabelecer, a não ser de que mudança é a única característica estável.

Rogério Cerqueira Leite

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