Em Ciência e Educação, Destaques

Rogério César de Cerqueira Leite

Prezados Colegas,

O Professor Jorge Almeida Guimarães, Presidente da CAPES, parece ter concluído de meu artigo “Produção Científica e Lixo Acadêmico no Brasil” publicado na Folha de São Paulo de 06/01/2015 e no meu blog, que eu estava acusando o sistema nacional de apoio à Ciência e Tecnologia, que incluiria a própria CAPES talvez, de omissão quanto à avaliação de resultados decorrentes de recursos aplicados em pesquisas. De fato não foi esta a intenção. Minha preocupação é com as inúmeras artimanhas adotadas para iludir o sistema de avaliação, que, aos poucos, começa a integrar a cultura da produção de Ciência no Brasil. Sei muito bem o quanto é difícil elaborar procedimentos que permitam avaliações qualificadas. Se os Sistemas nacional e estaduais de apoio à pesquisa estão sendo negligentes ou não quanto à avaliação é um problema que talvez mereça nossa atenção mais tarde. O que é muito mais sério é a crescente produção de lixo acadêmico no Brasil. Inimigo da ciência não é aquele que denuncia as perversões da ciência, mas aquele que as pratica e aquele que as ignora.

O Professor Sergio Rezende, por outro lado, em vez de comentar meus argumentos, procura me desqualificar como debatedor, insinuando que sou incompetente, pois teria publicado somente 20 artigos no Brasil e recebido apenas 230 citações. Esqueceu o ex-Ministro do MCTI que esses artigos foram publicados nos primeiros três ou quatro anos depois que retornei ao Brasil, enquanto montava, a partir de zero, o Instituto de Física da UNICAMP. Desde então me dediquei a criar espaços para outros fazerem pesquisas. E um dos primeiros beneficiados foi o próprio Sergio, que, aliás, até recentemente deu-me seu total apoio. Nos doze anos que fiz pesquisa publiquei com colaboradores entre 70 e 80 artigos e tive cerca de 3.000 citações. O Sergio nos 42 anos de atividade produziu 237 artigos com seus colaboradores no Brasil e no exterior e obteve 1.878 citações (Scopus). Para o Sergio me alcançar em número de citações terá, na sua toada atual, que fazer pesquisas por mais 30 anos.

Se, todavia, o Sergio mencionou números de artigos e citações para contestar a qualidade das minhas publicações no Brasil, os dados aqui apresentados mostram que o número de citações por artigo é no meu caso quase seis vezes maior que o dele e que mesmo no Brasil o meu índice é quase o dobro do dele. Pois bem, após tantos anos de cooperação, só posso atribuir a opinião do Sergio ao rancor marinista (ou seria PSDBista?). E isso passa. Ainda bem.

Rogério Cerqueira Leite

PS.: Estou reproduzindo no meu blog esta e as duas manifestações que a motivaram. Se algum dos Senhores quiser incluir a sua, por favor, me avisem.


[1] Jorge Almeida Guimarães, presidente do CAPES

Amigas e amigos,

O artigo de ontem do influente físico Rogério Cerqueira Leite (FSP 6/1/2015) poderia ter trazido uma boa contribuição ao debate que todos temos de defender uma universidade mais qualificada, o que só pode ser feito com instituições fortes na pesquisa.  Sabemos quem faz essa tarefa nas nossas universidades e sabemos também quem é radicalmente contra os avanços que precisamos ter nas nossas instituições. Misturar essa questão fundamental com nossos recentes passos na ciência, nascida em nosso sofrido país há tão poucas décadas, foi um desserviço à causa nobre que buscamos defender. Sabidamente a conceitua revista Nature procura com freqüência desmerecer o esforço brasileiro para crescermos na pesquisa científica. Vejamos alguns exemplos:

1)       Sir David King na condição de assessor científico do Primeiro Ministro Inglês, escreveu na Nature no começo dessa década artigo depreciativo sobre a ciência em países emergentes. Colocou na importante revista um gráfico com produção científica per capita o que colocou países populosos como o Brasil, a China e a Índia em situação ridícula. A mensagem clara: larguem esse negócio de fazer ciência, prá lá, deixem isso para nós outros. Tive um sério debate com ele sobre isso e perguntei por que não fazíamos um comparação per Pound e não per capita?

2)       Mais recentemente a mesma Nature ao tomar conhecimento de que 60 revistas de todo o mundo haviam sido desqualificadas pela Thomson Reuters e pelo JCR, por uso de procedimentos anti-éticos de editoração, fez matéria pesada somente contra o Brasil que teve seis revistas incluídas nessa desqualificação e que em conseqüência disso foram também desqualificadas na avaliação da CAPES. Assessoramos a Presidente da SBPC a contestar a matéria, onde perguntamos: por que não atacaram os países europeus e também os EUA, ou seja os países desenvolvidos que respondiam pelas outras 54 revistas? Apesar de nossos esforços o direito de resposta demorou muito a ser atendido e ainda assim veio bastante mutilada nossa reclamação.

3)       Mais recentemente ainda a mesma Nature com sua grande preocupação com o Brasil, publicou análise sobre a produção científica de “qualidade” de vários  países. Lá estava novamente uma análise negativa sobre a nossa ciência, usando sofismas: o primeiro, as 60 (sessenta?) boas revistas do mundo são majoritariamente vinculadas à Nature. Ou seja, não existem outras boas revistas que cobrem cerca de 250 temas especializados de pesquisa mundo afora! Outra parte do sofisma, é de onde tiraram esses US$ 30 bilhões que o Brasil aplicaria em ciência, se alguém souber isso é favor nos explicar.   

Ao substanciar seu artigo nessa última matéria da Nature, Cerqueira Leite perdeu grande oportunidade de afunilar a discussão sobre os verdadeiros entraves que impedem nossas universidades de darem passos positivos para o enfrentamento de suas qualificações e desmereceu os significativos avanços da jovem ciência brasileira. Será que os pesquisadores da EMBRAPA, da EMBRAER, da Petrobrás, por exemplo publicam nas revistas do conglomerado Nature?

Infelizmente estamos tratando aqui de mais um capítulo do que rotulo como componentes da série  “Inimigos da Ciência”.

 Um abraço a toda(o)s.

Jorge Guimarães.


[2] Professor Sergio Machado Rezende, ex-ministro da Ciência e Tecnologia

Caro Jorge

Sua nota está muito boa.


Concordo com Jacob que deveria ser publicada, na página da ABC, e também no JC Notícias.

Agora, se voce tiver disposição e tempo, ela seria mais útil se o último parágrafo fosse expandido um pouco, apontando sucintamente alguns dos gargalos e dificuldades da ciência brasileira.

Algumas das dificuldade apontadas por Rogério são, em minha opinião, corretas. O problema é que ele simplifica as coisas e se coloca na posição de árbitro. Ele age assim há várias décadas, escrevendo artigos críticos sobre os cientistas e acadêmicos brasileiros. Como se ele próprio tivesse feito muita coisa e de boa qualidade para a ciência brasileira.

Uma simples olhada no Web of Science, que acessamos facilmente graças ao Portal de Periódicos da CAPES, mostra que no período 1972-2015, no qual nosso colega trabalha no Brasil, ele foi co-autor de 20 artigos científicos (nenhum publicado na Nature), que foram citados 271 vezes, com um correspondente índice H de 10.

Abraço
Sergio


Créditos de imagem: 3.bp.blogspot.com, uol.com.br

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