Em Destaques, Vida Nacional

“[…] Mas de tudo, terrível, fica um pouco,

e sob as ondas ritmadas

e sob as nuvens e os ventos

e sob as pontes e sob os túneis

e sob as labaredas e sob o sarcasmo

e sob a gosma e sob o vômito

e sob o soluço, o cárcere, o esquecido

e sob os espetáculos e sob a morte escarlate

e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes

e sob tu mesmo e sob teus pés já duros

e sob os gonzos da família e da classe,

fica sempre um pouco de tudo.

Às vezes um botão. Às vezes um rato”.

In: Resíduo – Carlos Drummond de Andrade (http://letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/1221853/)

O Brasil tem, registrados, 142 milhões de eleitores. A Presidente Dilma Rousseff foi reeleita com 54 milhões de votos (38% do eleitorado total). A oposição também foi bem votada, recebendo o sufrágio de 51 milhões de brasileiros (35%). E as abstenções, nulos e brancos somaram 37 milhões de votos (27%).

“Seguindo a tradição dos últimos confrontos entre PT e PSDB em disputas presidenciais, Dilma Rousseff ganhou a eleição de segundo turno nas regiões Norte e Nordeste e perdeu no Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste. A grande vantagem que obteve sobre o tucano Aécio Neves no Nordeste foi mais que suficiente para compensar os revezes nas demais regiões”. (A geografia dos votos obtidos por Dilma e Aécio. In: Congresso em Foco, 27.10.14).

Nos doze maiores colégios eleitorais, o quadro final das eleições para Presidente e para Governador é o seguinte:

O PT venceu em três grandes estados – Minas Gerais, Bahia e Ceará. No segundo turno, Dilma Rousseff foi a mais votada nestas unidades da federação;

O PSDB conquistou quatro grandes estados – São Paulo, Paraná, Pará e Goiás. E Dilma perdeu no segundo turno em todos eles;

O PMDB foi o vencedor no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Dilma venceu no Rio e perdeu no RS;

O PSB venceu em Pernambuco; o PCdoB, no Maranhão; o PSD, em Santa Catarina. E Dilma, vitoriosa no MA e em PE, foi perdedora em SC.

Assim, Dilma Rousseff ganhou em seis estados que concentram grandes quantidades de eleitores (MG, RJ, BA, CE, PE, MA). E Aécio Neves em outros seis: SP, RS, PR, SC, PA, GO.

Estes resultados regionais fortalecem os ‘barões da federação’ (as lideranças políticas dos estados de grande porte e os governadores eleitos). E são duas as legendas partidárias governistas que mais beneficiam-se ao final do processo eleitoral de 2014: o PT e o PMDB.

Para recompor a base parlamentar governista, a Presidente deverá buscar o apoio de cerca de 300 Deputados Federais e de algo em torno de 50 Senadores. Para tanto, o condomínio que sustenta o governismo no Congresso Nacional ainda seguirá dependente de ampla composição partidária (de cerca de dez legendas).

A primeira declaração da presidente reeleita, logo após o anúncio dos resultados, assumiu um tom conciliatório que continuou no dia seguinte nas duas “exclusivas” nas redes Record e Globo. Continuando o que fez a campanha toda, a então candidata a Presidente reeleita continuou sinalizando a adoção de medidas na área econômica, sem especificá-las, mesmo sendo pressionada por seus entrevistadores; segundo ela as definições na área ocorrerão ao longo de novembro.

Enquanto isso, no mercado financeiro o day after continuou registrando grande volatilidade; mesmo com a entrevista coletiva, pouco relevante, do ministro “demissionário” da Fazenda. Esse cenário tende a se manter ainda por algum tempo a espera de maiores definições sobre a nova equipe e política econômica. Nesse campo a disputa será mais acirrada, como demonstra o comportamento do “mercado” através de seus agentes na grande mídia, que continuam tentando impor ao novo governo uma pauta (política econômica) derrotada nas urnas no dia 26. As únicas indicações até agora foram expressas pela própria Presidente que, em seu pronunciamento de vitória, deixou claro que pretende garantir o poder de compra dos salários e manter o nível de emprego.

Diante desse quadro, poucos analistas apostam em mudanças radicais nas políticas de governo no próximo período. Há muita expectativa entre os formadores de opinião a respeito da composição do futuro ministério de Dilma Rousseff. E muitos são os nomes que circulam nas mídias: dirigentes de bancos e de empresas, lideranças políticas vitoriosas nas urnas de 2014, quadros acadêmicos, burocratas onipresentes.

 A conferir.


Créditos de imagem: gazetamt.net

 

 

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