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Bem que Dilma Rousseff nos enviara um claro aviso, duas semanas após vencer as eleições presidenciais, por apertado placar: “Eu não represento o PT. Eu represento a Presidência da República. A opinião do PT é a opinião de um partido. Não me influencia, eu represento o país. Sou presidente dos brasileiros. Acho que o PT, como qualquer partido, tem posições de parte e não do todo, é deles, é típico”. (O Globo, 7/11/2014).

O dito ainda não virou um fato, mas as especulações, os boatos, as notas “plantadas” nas mídias estão a indicar que o próximo ministério da Presidente da República terá um certo viés conservador, especialmente em seu núcleo que responderá pela gestão da economia.

Alguns dados macroeconômicos de 2014 têm sido utilizados como argumento para dar cacife a determinados nomes de ministeriáveis intimamente ligados ao mercado financeiro e ao pensamento monetarista. A questão fiscal é um exemplo.

Aos poucos o diagnóstico feito à época da campanha eleitoral, creditando o baixo crescimento interno ao quadro de forte contração das principais economias do mundo (China principalmente), cede espaço para a visão, defendida pela oposição, de necessidade de “arrumar” a casa a partir de uma redução de gastos públicos. Ocorre que até opositores mais veementes concordam que não existe muito onde cortar, pois não há excessos na conta de custeio sempre “culpada” pelo desequilíbrio das contas públicas. Vale destacar que no Orçamento da União 2014, além dos gastos constitucionais (saúde e educação) , algo em torno de 42% estão destinados a pagamento de juros.  Fica difícil acreditar, a partir dessa visão que começa a predominar, que os indicadores de emprego e renda , cujos resultados continuam auspiciosos , mantenham a trajetória atual.

Impossibilitado de cumprir a meta de superávit fiscal firmada em lei, o governo federal precisa alterá-la e para isto depende do Parlamento em final de mandato. A primeira tentativa — feita há poucos dias — resultou em frustração para o governismo. Novo esforço está previsto para a semana em curso.

O imbróglio fiscal fortalece o discurso favorável à adoção de políticas econômicas restritivas, que sustentem cortes nas despesas públicas e aumentos na carga tributária. E os nomes que ganham visibilidade para disputar o posto de ministro da Fazenda caracterizam-se pelo perfil ortodoxo.

Fala-se que o economista Joaquim Levy poderia ser o futuro ocupante do Ministério da Fazenda. Dele, nos diz uma colunista aficcionada  que foi assessora de imprensa de Armínio Fraga no Banco Central— “Joaquim Levy é um guardião da ortodoxia econômica” (Thaís Herédia – G1, 24/11/2014). Assim, desde 2003, seria a primeira vez que, para este cargo, seria nomeado um cidadão sem ligação orgânica com o Partido dos Trabalhadores, pois Antonio Palocci — antes de ser ministro do governo Lula — fora deputado, prefeito e coordenador da campanha presidencial de 2002, sempre pelo PT. E Guido Mantega fora um dos principais conselheiros econômicos da legenda e de Lula, desde a criação do partido (em 1980).

No noticiário, dizia-se que o ato fundador do quarto mandato presidencial do PT aconteceria no decorrer desta semana: a Presidente anunciaria os ministérios da área econômica, bem como apresentaria os nomes a serem nomeados para dirigir os principais bancos públicos federais.

Poderemos, então, melhor avaliar qual será a natureza de “Dilma, 2.0”.


Créditos de imagem: fabiocampana.com.br

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