Em Cinema, Destaques

 

  “His narrative approach seems blunt, but the narrative itself is so labyrinthine

               we abandon any hope of trying to piece it together and just abandon

ourselves to letting it happen. We feel in safe hands” (Roger Ebert)

Em outubro, tivemos a chance única de rever, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, a obra de Stanley Kubrick (1928-1999), um dos mais importantes e cultuados diretores do cinema americano. A retrospectiva fazia parte da homenagem da Mostra Internacional de Cinema, que incluía ainda o lançamento de um livro, da autoria de um respeitado crítico francês, sobre a carreira de Kubrick1 e uma exposição com fotos e objetos de seus filmes, que se estenderá até janeiro no MIS.

Em quase cinquenta anos de atividade como diretor (1951-1999), Kubrick realizou três curtas e treze longas, alguns destes considerados obras de referência do cinema do Século XX. A produção relativamente limitada derivava do estilo de trabalho do diretor, que dedicava anos a estudos e preparação de seus projetos e, frequentemente, estendia as filmagens por longos períodos.

É marca conhecida de Kubrick a incursão em gêneros tão distintos como o filme de guerra, o de época, o de terror, a ficção científica e o noir. Mais do que versatilidade, esses filmes revelam o extremo domínio do diretor americano sobre a linguagem do cinema e os recursos da edição, o que lhe permitiu fugir das fórmulas tradicionais das narrativas dos gêneros e moldá-los ao seu “cinema de ideias”.

Curiosamente, em grande parte dos projetos de Kubrick o argumento literário foi o ponto de partida para a experimentação e descoberta das possibilidades próprias da arte cinematográfica. Com exceção dos três documentários de curta metragem e dos dois primeiros longas (Medo e Desejo e A Morte passou por Perto), todos os filmes de Kubrick foram baseados em livros. Não se tratava de adaptações, mas da transformação de uma boa ideia, expressa em palavras, por meio das imagens. No final, o filme não apenas se distanciava do livro que o havia inspirado como ostentava sua força e originalidade em relação a este. Foi assim com Lolita, de Vladimir Nabokov, com Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, e com 2001, de

Arthur Clarke. Este último representa uma fantástica experiência para o sentido da visão: em mais de 140 minutos de filme, há diálogos em pouco mais de 40.

Na entrevista concedida ao jornalista Tim Cahill, em 1987, para a revista Rolling Stone, logo após o lançamento de Nascido para Matar, o cineasta reconhece a edição como a única forma realmente original e peculiar nos filmes – “tudo o mais vem de outra coisa. Escrever, claro, vem da escrita, a atuação vem do teatro e a cinematografia, da fotografia. A edição é peculiar aos filmes. É possível ver algo de diferentes pontos de vista quase simultaneamente e isso cria uma nova experiência”.

Na busca da originalidade da arte do cinema, o diretor instiga, ao invés de explicar, utilizando fartamente como recursos narrativos a elipse, a exploração das aparências e as oposições – entre racionalidade e irracionalidade, entre o objetivo e o subjetivo e entre o que sabemos e o que está escondido.

A enorme qualidade técnica do cinema de Kubrick desafia o espectador a uma experiência simultaneamente visual e intelectual, evitando a exploração emotiva do seu tema mais caro: as sombras e as ironias do comportamento humano.

A OBRA DO DIRETOR

1. Medo e Desejo – 1953

(Fear and Desire)

2. A Morte Passou por Perto – 1955

(Killer’s Kiss)

3. O Grande Golpe – 1956

(The Killing)

4. Glória feita de Sangue- 1957

(Paths of Glory)

5. Spartacus – 1960

(Spartacus)

6. Lolita – 1962

(Lolita)

7. Dr. Fantástico – 1964

(Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb)

8. 2001: Uma Odisséia no Espaço – 1968

(2001: A Space Odyssey)

9. Laranja Mecânica – 1971

(A Clockwork Orange)

10. Barry Lyndon – 1975

(Barry Lyndon)

11. O Iluminado – 1980

(The Shining)


[1] Michel Ciment, Em Conversas com Kubrick, Cosac Naify, 2012 (Prefácio de Martin Scorsese).

Crédito de imagem: ohomemquesabiademasiado.blogspot.com.br

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