Em Destaques, Vida Nacional

No Carnaval, samba, suor e cerveja. À intensa movimentação dos corpos, corresponde certa lassidão do Tempo, da História. Os conflitos da conjuntura parecem submergir, aguardando o fim da ‘festa da carne’. Contudo, o enredo foi um pouco diferente, neste 2014, tanto na sociedade como na economia e na política.

Na esfera social, o registro foi a greve dos garis cariocas, que pintou de laranja a cidade do Rio de Janeiro. A mobilização inesperada destes servidores públicos deu continuidade aos conflitos de rua que animam a ‘capital do samba’ desde Junho de 2013. A reivindicação foi plenamente vitoriosa – enfrentando governantes caolhos e mesquinhos, sindicalistas pelegos, mídia inimiga – e certamente será mais uma referência para as lutas sociais durante o ano em curso.

No âmbito da economia, três os destaques no morno noticiário do período: (1) no Brasil, são as projeções de inflação que preocupam (sob a pressão de longa e forte estiagem, que eleva os preços dos alimentos); e, (2) no plano externo, um fato e uma expectativa conturbam o ambiente – (A) o fato: um sinal de alerta veio em decorrência do “default” de obscura empresa da China (onde, até então, as autoridades econômicas tinham como procedimento normativo cobrir as quebras de caixa); e, (B) permaneceu sob tensão o mercado financeiro internacional, em função de uma expectativa: estamos a duas semanas da decisão do banco central (FED) dos EUA a respeito do montante de estímulos à economia daquele País e – qualquer que seja a decisão – haverá reflexos imediatos entre os agentes econômicos, afetando o Brasil [positiva ou negativamente].

Já na cena política, aproveitando o longo recesso do período, o PMDB ocupou quase todo o espaço do noticiário nacional. O líder do coro dos descontentes da legenda, o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), lançou ultimatos aos governistas, discutiu com lideranças petistas e ameaçou – mais uma vez… – antecipar a convenção do partido, para discutir alternativas de posicionamento estratégico para as eleições de 2014.

O histriônico Cunha foi acompanhado pela fala mansa do presidente da legenda – senador Valdir Raupp – que chegou a cogitar o lançamento de candidatura própria à sucessão de Dilma Rousseff. O nome sugerido para esta missão kamikaze foi o do senador Roberto Requião.

O carnaval peemedebista foi a pauta que emulou artigos, análises e comentários em jornais, rádios, TV’s e redes sociais. Este é um fenômeno que se reproduz quadrienalmente, desde o fim da ditadura militar, sempre ao final do mandato presidencial.

A legenda registrou candidatura própria apenas em duas ocasiões: na sucessão de 1989, quando o partido optou pelo doutor Ulysses Guimarães, cuidando de abandoná-lo à posteriori; e em 1994, quando Orestes Quércia foi o candidato à Presidência e também deixado sem suporte político-partidário ao longo da campanha.

Derrotado nas duas ocasiões, ao PMDB restou apenas coadjuvar a chapa PSDB-PFL, no pleito que reelegeu FHC, em 1998 (depois que os caciques regionais do partido derrotaram as pretensões presidenciais de Itamar Franco). Mas, durante o segundo mandato de FHC  – mesmo dividido – o PMDB aproveitou-se da ruptura política do bloco que governava, para compor a chapa governista que foi derrotada por Lula, em 2002.

Na reeleição de Lula/José Alencar, em 2006, o partido foi – de novo – mero coadjuvante (e para isto, precisou barrar a ambição eleitoral de Anthony Garotinho, que queria concorrer à Presidência da República).

Somente em 2010 o PMDB compôs uma chapa vencedora em pleito presidencial, com a dobradinha Dilma/Temer.

Com este currículo eleitoral, os eventuais parceiros da legenda sabem que as alianças com os peemedebistas são marcadas por instabilidades várias no decorrer do mandato e – principalmente – no período da sucessão presidencial. Por isso, após os carnavais – o Carnaval da sociedade e o carnaval do PMDB – os articuladores da campanha reeleitoral da presidente Dilma entraram em campo para negociar demandas e administrar crises.

É neste ponto que nos encontramos, no presente momento. Mas, embora o Poder Executivo tenha acesso a pesquisas qualitativas que indicam que o eleitor prefere que os governantes resistam ao fisiologismo dos congressistas, nunca é demais lembrar que a política é como nuvem…

Créditos de imagem: noticias.r7.com

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