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Por Redação

O exercício de dois métodos: um na Cracolândia; outro na Paulista

6:30 hs da manhã de domingo (21/05) na Cracolância, centro de São Paulo: 900 policiais, helicópteros, bombas e cães substituem a droga pelo veneno da ‘solução final’ para desafios sociais na maior cidade do país

Horas depois, prefake Dória, adicionalmente deslocado com seu sorriso mecânico de marionete de presépio desprovido de articulação labial, a malha colante e o indispensável tênis mocassim, saltita por entre os escombros elogiando o saldo do propagandeado ‘assalto final’ à Cracolândia, em São Paulo, obra conjunta do ‘gestor’ municipal com o governador tucano Geraldo Alckmin.

‘(Foi tudo feito) sem vítimas, sem violência, com muita eficiência da força policial’, dizia Dória a jornalistas atônitos,em meio a um cenário de Guernica destroçada, após o bombardeio da coalizão nazista-franquista em 1937,na Espanha, contra o reduto republicano.

‘A cracolândia aqui acabou, não vai voltar mais. Nem a prefeitura permitirá, nem o governo do Estado. Essa área será liberada de qualquer circunstância como essa. A partir de hoje, isso é passado”, dizia o prefake enquanto vistoriava o rastro deixado pelas tropas.

Um saldo simbólico muito esclarecedor da ocupação é que ela serviu também de cenário fumegante para a retirada, por funcionários municipais, das tabuletas do programa ‘Braços Abertos’,da gestão anterior do ex-prefeito Fernando Haddad.

De abordagem humanizada e incremental , o ‘Braços Abertos’ foi, primeiro, esvaziado pelo prefake, depois descartado como uma resposta ‘bem intencionada, mas ineficaz’.

O complexo desafio do entrelaçamento entre droga e desigualdade no século XXI brasileiro, extremado no quadrilátero da capital mais rica do país, fica assim ao sabor da concepção de mundo da nova administração liderada por um rebento da direita emergente e radical.

Com seu alcaide paulistano, o PSDB demonstra mais uma vez a incapacidade de lidar com problemas sociais crônicos, transferindo às panacéias privatizantes a solução para ‘colaterais humanos’ por elas mesmas criados na mastigação insaciável da sociedade pelos mercados.

A insistência nesse receituário no caso concreto da Cracolândia –eterna candidata a uma higienização pelo triturador da especulação imobiliária– desqualifica e esquarteja o pouco que se conseguiu acumular ali com projetos de uma abordagem mais ecumênica e aproximativa.

O saldo do gás lacrimogênio e da retroescavadeira, porém, não atesta a suposta eficácia da escolha conservadora.

Depois da ação policial, muito semelhante a de janeiro de 2012, que não impediu a reconstituição do ‘fluxo’ de dependentes e traficantes no mesmo lugar, os alvos da ‘solução final’ espalhavam-se pelas ruas do entorno da Cracolância no final da tarde e começo da noite de um domingo chuvoso, em absoluto desamparo. Agora, desprovidos dos barracos de lona, dos colchões imundos,de documentos e cobertores de trapos sequestrados ou rasgados pelos policiais e funcionários de Dória.

Em um posto de gasolina na esquina da rua Helvétia com a avenida Rio Branco, por exemplo, uma centena de usuários, alguns simplesmente estendidos no chão, desmentiam mais uma vez as realizações publicitárias do prefake.

O fracasso não serve de mitigação às cenas de horror que São Paulo assistiu neste domingo.

O que aconteceu na Cracolândia expõe um método. Que não apenas repugna; sobretudo adverte.

Seus autores acreditam nisso.

O Brasil está vivendo um desses marcadores históricos nos dias que correm e rugem.

A ‘solução final’ neste caso, diante de um ciclo de desenvolvimento que se esgotou e de outro que precisa ser repactuado, foi o golpe que substituiu uma Presidenta eleita por uma matilha corrupta, cuja salvo conduto se atrela à capacidade de revogar, a toque de caixa, os direitos sociais da Carta de 1988 e os trabalhistas, da CLT de 1943.

A única alternativa a espiral intrinsecamente violenta e repressiva é a devolução ao povo da prerrogativa de comandar o próprio destino em eleições limpas, livres e diretas, como pediam as ruas neste mesmo 21 de maio.

Uma delas, por sinal, a avenida Paulista, a poucos quilômetros da Cracolândia, apesar da chuva grossa ecoou a mesma garra e o fôlego evidenciados no resto do Brasil.

O antagonismo dos métodos é ilustrativo das massas de forças em rota de colisão no país.

O mundo já viu isso antes. E não guarda boa memória das suas consequências.

Humanistas e liberais sinceros,a exemplo do tucano José Gregóri e Claudio Lembo – ao lado de progressistas, democratas e socialistas, como Fernando Haddad, entre outros,deveriam se unir e dizer ‘não’ a esse ensaio de totalitarismo exercido contra o grupo mais vulnerável e indefeso da sociedade: pobres, marginais, dependentes.

Deveriam faze-lo movidos por um impulso suprapartidário de memória e de responsabilidade humanista diante do que ela ensina.

Nos anos 30, na Europa, muitos dos que preferiram relevar diante da serpente, depois se tornariam vítimas dos ovos chocados no mormaço da subestimação e da letargia.

Na foto, o acolhimento da prefeitura aos expulsos da Cracolândia, após a solução final para o problema decretada domingo (21/05) pela prefeitura e o governo do Estado tucanos.

Leia mais sobre este assunto:

Operação na cracolândia foi selvageria sem paralelo: http://bit.ly/2rUf7gP

Carta Maior [http://bit.ly/2qN1cLU]:21/05/2017.

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