Em Conjuntura Internacional, Destaques

Por Nilson Lage


Do pacote de acordos entre a Argentina e o Império, celebrados na visita de Obama a Buenos Aires, só se conhecem os títulos e raras indicações de conteúdo:

1. A “luta contra o narcotráfico e o terrorismo” não diferencia segurança (grosso modo, polícia) e defesa nacional (grosso modo, forças armadas);

2. A “assistência à tríplice fronteira” atende ao momento anti-islâmico e provavelmente envolve ampliação da atividade de agentes americanos na área;

3. “Missões militares na África” pode ser qualquer coisa, desde o apoio a ações determinadas pela ONU até atuação americana indireta no confronto com a expansão dos negócios e interesses chineses no Continente;

4.” Asilo a sírios” pretende nova corrente migratória financiada pelos EUA para aliviar a pressão sobre países da Europa Ocidental;

5. “Centros de fusão de inteligência”, “defesa hemisférica” e “forças de segurança no Comando Sul” dispensam explicações;

6. “Cooperação nuclear à revelia/sem levar em conta/a despeito do (a expressão em espanhol é imprecisa) Brasil” implica a derrogação do acordo argentino-brasileiro que, desde 1991, permite o uso de energia nuclear pra fins pacíficos mediante controle recíproco;

7. Abertura comercial irrestrita.


Em resumo, é o seguinte: a Argentina se integra aos objetivos políticos globais dos Estados Unidos, utilizará suas forças militares para defesa dos interesses dos Estados Unidos (e para isso serão treinadas e habilitadas), retoma o antigo sistema de “unidade hemisférica das Américas, centrado na OEA; e assume o pagamento de royalties e patentes (em áreas como medicamentos e informática, entre outras).

Note-se que a Argentina é competidora dos Estados Unidos no mercado de commodities agrícolas, que são a base de sua economia, e tem comércio deficitário com os americanos.
Passa-se a borracha nas últimas décadas da história argentina e volta tudo ao tempo de Menem – ou, mais precisamente, de Ongania.

São os novos velhos tempos da globalização/colonização.

Leia sobre este assunto: La transparencia del sigilo. Página 12 http://bit.ly/1pRvfz0

FB do Autor: 27/03/2016.

Nilson Lage. Jornalista. Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Imagem: David Fernandez/AP

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