Em Destaques, Vida Nacional

A situação do País esta muito confusa. Há dificuldades na economia e na política. Esta semana foi rica em exemplos do gênero:

– O ministro Aloizio Mercadante foi ao Parlamento. Fez autocrítica, elogiou a oposição e propôs um pacto político : “O ministro-chefe da Casa Civil admitiu que o governo cometeu erros e pediu apoio da oposição à responsabilidade fiscal. O ministro disse que o PSDB tem ‘experiências importantes’ e pediu um apoio suprapartidário para questões que envolvem política de estado”. (Brasil247, 5/8/15);

– Os setores majoritários da oposição (que estão sendo acusados por articulações de elite que visam colocar Dilma Rousseff para fora do governo) parecem infensos a aproximações com os petistas. Para o senador José Serra, a unidade já se fez e seu caráter é de oposição : “Hoje não há divisão no País pois estão todos contra Dilma” (DCI, 7/8/15). Alberto Goldman reiterou : “O único consenso a que chegamos é da inviabilidade de Dilma continuar como presidente. Ela não consegue mais passar um projeto, dar sequência a um programa de governo. Não há como imaginar que ela possa continuar à frente do governo por mais três anos e meio.”;

– Michel Temer, escolhido por parcela da elite para protagonizar o papel de “alternativa” imediata à Presidente, falou e cometeu o ato falho da semana : — “É preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos, de reunir a todos, de fazer esse apelo. Eu estou tomando essa liberdade de fazer esse pedido, porque, caso contrário, nós podemos entrar numa crise desagradável para o país.” (G1 — 5/8/15);

– Em Nota Oficial, FIRJAN e FIESP hipotecaram o apoio dos industriais às proposituras de união nacional — “O momento é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil. A situação política e econômica é a mais aguda dos últimos vinte anos. É vital que todas as forças políticas se convençam da necessidade de trabalhar em prol da sociedade. O Brasil não pode se permitir mais irresponsabilidades fiscais, tributárias ou administrativas […]” (ver ‘FIRJAN e FIESP em prol da governabilidade do país’, [6/8/15];

– Luiz Carlos Trabuco — presidente do Bradesco e ‘padrinho político’ do ministro Joaquim Levy — não poderia ficar ausente, nesta semana: “Não fomos capazes de antever o que aconteceria após a redução no preço das commodities que o Brasil exporta, que trouxe perdas para a renda nacional. E acreditamos em coisas que não deram certo, como segurar os preços administrados”. / “Há uma crise grave, séria. Vamos ter de consertar este avião em pleno voo, não dá para esperar a aterrissagem. Políticas monetária e fiscal austeras apenas não bastam. A crise política é mais forte que a própria crise econômica. Isso abala a confiança e retarda a retomada. Todos os participantes desse processo –políticos, Executivo, autoridades– têm de pensar grande. Precisamos ter a grandeza de buscar a convergência”. (Folha de S.Paulo, 8/8/15);

– Frei Beto, lídimo representante da esquerda católica, a tudo vê e diz que teme! — (FSP, 9/8/15) — “A minha pergunta íntima, hoje, não é o impeachment. Acho que a democracia brasileira está consolidada, não há motivo para impeachment. A minha pergunta é outra. É se a Dilma, pessoalmente, aguenta três anos pela frente. Eu temo que ela renuncie. […]. Ou tem uma mudança de rota ou eu me pergunto se ela vai aguentar o baque psicológico de três anos e meio pela frente com menos de 10% de aprovação, 71% dizendo que o governo é ruim ou péssimo. Isso é um sinal de que você não está agradando nada. Não adianta fazer cara de paisagem. Ou ela dá uma mudança de rota, muda a receita do ajuste, ou pega a caneta e fala ‘vou pra casa, não dou conta’. Eu tenho esse temor”;

– E cumprindo fielmente o roteiro típico de etapas críticas, os ratos são (e sempre serão…) os primeiros a abandonar o navio avariado do governo federal : as bancadas parlamentares do PTB e PDT anunciaram a saída da precária base de apoio de Dilma Rousseff, no Congresso Nacional.

Quanto a nosotros, optamos por uma abordagem menos dramática ao fazermos a crônica destes nossos tempos bicudos. Em chave irônica, o remédio foi folhear o “Almanaque”, canção de Chico Buarque:

1) “…ó menina vai ver nesse almanaque / como é que tudo isso começou / diz quem é que marcava o tic-tac que a ampulheta do tempo disparou…” — O instituto da reeleição foi a maldição do governo FHC. O Presidente sustentou política cambial de valorização do Real para poder ser reeleito no primeiro turno, em 1998. Ao desvalorizar a moeda, em 1999, ele catalisou a ira do eleitor engabelado. Fato muito agravado pela conjuntura econômica e pelo racionamento de energia…

Dilma Rousseff segue pelo mesmo sendero, principalmente depois que a economia da China desacelerou (afetando o Planeta) e com a opção por Joaquim Levy para o Ministério que adotou uma política econômica de austeridade com cortes de gastos públicos/realismo tarifário levando o País à estagflação (recessão com inflação). Vale destacar que recente estudo da FGV vincula o aumento dos gastos públicos no Brasil ao aumento de benefícios sociais, um dos pilares das sucessivas vitórias eleitorais do PT.

Ao desconforto econômico do eleitorado, somou-se a ira cidadã com relação ao sistema de corrupção revelado publicamente pelas denúncias ligadas às investigações da operação Lava Jato.

2) “…se mamava de sabe lá que teta / o primeiro bezerro que berrou…” — As denúncias premiadas de doleiros, lobistas e de dirigentes de empresas públicas e privadas possibilitaram que, pela primeira vez, alguns altos executivos de grandes empreiteiras estejam a pique de serem punidos pelo Judiciário: embora ainda caiba recurso, foram condenados, “na primeira instância.

3) “…quem tava no volante do planeta / que o meu continente capotou…” — As indicações disponíveis sugerem que Dilma não tem conseguido administrar a crise de conjuntura. Ela nada pode com relação ao Judiciário, à Promotoria e à Polícia Federal; por isso, a operação Lava Jato vai corroendo a base de apoio da gestão petista. O Ministério nomeado por Dilma é incapaz de suprir o vazio político deixado pela Presidente; os personagens mais destacados da equipe de governo — Mercadante, Temer, Levy, Cardoso, Barbosa, Kassab, Katia Abreu, Edinho, Wagner — pouco podem e as derrotas do governo vão se sucedendo semanalmente no Parlamento; são as rações diárias na mesa governamental.

Lula tenta se impor, o PT esboça críticas públicas, o PMDB põe muita pressão e a base parlamentar chantageia querendo, sempre-e-sempre-mais, recursos orçamentários. Desorganização e improviso imperam, aumentando o desgaste do governo federal e ampliando o descontentamento geral.

4) “…prá onde vai o meu amor / quando o amor acaba…” — Setenta e um por cento dos entrevistados pelo instituto Datafolha consideram Ruim/Péssimo o governo de Dilma Rousseff. E 2/3 dos pesquisados nesta enquete querem que o Congresso Nacional abra processo de impeachment da Presidente. “O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou, em reunião com quatorze deputados estaduais e dirigentes petistas (Rui Falcão e Emídio de Souza), que os efeitos da Operação Lava Jato não poderiam ser suplantados nem por uma repentina e milagrosa melhora das finanças sob a gestão Dilma Rousseff…”

5) “…vê se vê no almanaque, essa menina / como é que termina um grande amor…” — Há diversas manobras em curso no Parlamento, que têm como objetivo a redução do mandato de Dilma (via impeachment) ou então a diminuição da abrangência do cargo da Presidência (através da adoção do sistema parlamentarista, entre outras ‘propostas políticas’ da elite nacional). E para serem bem sucedidas, estas manobras dependeriam “da existência de um clima de inquietação [nacional da opinião pública], com a economia em queda e o desemprego em alta. Disso a doutora [Dilma] vem cuidando… Para piorar, o Congresso aprova maluquices que agravam as dificuldades. O caldo entornará com as manifestações [de massas agendadas para o mês] de agosto”. (Elio Gaspari / FSP, 19/7/15).

Dilma respondeu aos reptos de seus adversários, discursando em Roraima, na sexta-feira: “Esse país é uma democracia e uma democracia respeita, sobretudo, uma coisa: a eleição direta pelo voto popular. Sei o que é viver numa ditadura. Por isso, respeito a democracia e o voto. Podem ter certeza que honrarei o voto que me deram”. “Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu”

É preciso muita resiliência para enfrentar as bruxas que estão a ocupar o cenário em Brasília, onde boatos terríveis circulam. Aqui, na hinterlândia paulista, repicam na rádio-cabeça outros questionamentos da canção — ¿”quem é que sabe o signo do capeta / e o ascendente de Deus Nosso Senhor”?

P.S.: Prá ouvir a canção, acessar o link http://bit.ly/1Tkjs8W


Imagem: ciespsjc.org.br

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