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Por Tereza Cruvinel

O discurso do Governo logo depois da derrota na Câmara – através dos ministros Jacques Wagner e Eduardo Cardoso – sustentou que o processo de impeachment em curso é um golpe e que a presidente vai resistir até o fim demonstrando sua falta de base jurídica.  É verdade que no Senado o ambiente não será o de “pega, mata e esfola” verificado na Câmara, especialmente no tocante ao direito de defesa. Mas o que está posto é uma luta de poder e não um julgamento propriamente dito.  Por isso, antes de mais uma batalha inglória, Dilma pode ser convencida a aceitar a “saída pelo povo”. Vale dizer, a renúncia a dois anos de mandato, com reforma política e eleições presidenciais em outubro, junto com o pleito municipal. O presidente do Senado, Renan Calheiros, é o candidato natural a articulador desta solução e ele tem considerado esta possibilidade.

No Senado, já existe um ambiente favorável. Nesta segunda-feira pela manhã, um grupo de senadores independentes, vale dizer, nem do PT nem do PMDB, vai defender hoje a proposta “Nem Dilma nem Temer, diretas imediatamente”. Dele fazem parte os senadores Walter Pinheiro (sem partido, ex-PT), Cristóvam Buarque (PDT), Randolfe Rodrigues (Rede), João Capiberibe (PSB), Lidice da Mata (PSB), Paulo Paim (PT).

Se Renan aceitar o desafiante papel de articulador do acordo nacional, terá que obter em primeiro lugar a anuência de Dilma. A proposta não pode partir dela, inclusive para não parecer que está fugindo do julgamento. Terá que ser uma iniciativa do Senado, costurada com diferentes partidos.  O PT deve aceitar, até porque tem um bom candidato, Lula.  A alternativa é enfrentar o processo no Senado, sem garantia de vitória, consumindo energias com recursos ao STF e defesas jurídicas que cairão sobre ouvidos moucos, como na Câmara. E no final, se perder, entregará o governo de bandeja ao conspirador Temer. Com as diretas, ele e sua turma veriam o doce golpista cair da boca”.

E o PSDB? Se fizerem as contas, os tucanos concluirão que nada têm a ganhar apoiando um governo Temer que carregará a marca do golpismo, que será contestado nas ruas e não terá autoridade para enfrentar e solucionar a crise. Com diretas, pode lançar um de seus candidatos.

Depois vem a constelação de partidos secundários, que não terão candidatos mas poderão, novamente, negociar apoios para ter lugar num futuro governo.

Esta é uma fórmula que, daqui para a frente, pode tomar corpo. Seu êxito dependerá do desprendimento de Dilma, que perde dois anos de mandato mas sai por cima, livrando da humilhante e injusta condenação. Dependerá de Renan, de Lula e muito do PSDB. Fora dela, teremos o prolongamento da crise até à conclusão do rito no Senado e, no final, uma solução que não será solução.  Dilma, que obteve apenas 137 votos em sua defesa na Câmara, se absolvida teria enormes dificuldades para recompor a governabilidade. E Temer, por tudo que já foi dito, não será garantia de estabilização. No máximo, fará um mandato tampão conflagrado pela contestação.

Brasil 24/7:18/04/2016.

Tereza Cruvinel. Jornalista.


Imagem: Quinho

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