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Desde tempos imemoriais a luz foi o principal instrumento que permitiu ao homem perscrutar a natureza e dominá-la em uma certa medida. O homem pode usar o tato, o olfato, a audição como instrumentos importantes para sua sobrevivência, mas sem a visão não seria capaz de subsistir.

Não é, pois, por acaso que o progresso da Ciência e da Tecnologia, depende primordial de novas fontes de luz. No começo bastava a luz solar. Depois, lâmpadas convencionais iluminavam microscópios.

O homem continuava em busca de fontes de luz mais potentes. O cientista chama de luz toda forma de radiação eletromagnética: ultravioleta, raios-X, gama, infravermelho, micro-ondas, etc. pois elas têm a mesma natureza que a luz visível.

Assim nasceu o “laser” previsto por Einstein. Durante algum tempo, décadas de 60 e 70, permitiu o laser, em suas múltiplas modalidades, um progresso explosivo da ciência em geral.

Mas cientistas são ambiciosos, insaciáveis. Durante a década de 70 perceberam que um antigo instrumento construído com a finalidade de acelerar elétrons, denominado síncrotron, também emitia luz. A primeira geração desse dispositivo com a finalidade precípua de emitir luz foi uma adaptação precária da tecnologia usada para estudar propriedades de elétrons e outras partículas elementares.

O Brasil só ousou entrar neste campo da tecnologia avançada na década de 1980. Projetou e construiu um síncrotron de segunda geração enfrentando o ceticismo da comunidade científica.

A despeito dessa descrença, o resultado foi imensamente recompensador. Vários diretores de síncrotrons europeus e americanos confessam não entender como foi possível, com tão poucos recursos financeiros – entre um terço e metade do que fora aplicado em instrumentos congêneres –, projetar e construir um equipamento competitivo.

Hoje, embora ainda extremamente útil, o síncrotron brasileiro está deixando de ser competitivo com novos equipamentos de terceira geração – continuando a ser, contudo, o único síncrotron construído no hemisfério Sul. A mesma equipe que projetou e construiu o primeiro síncrotron brasileiro apresentou um projeto pioneiro para um novo, de quarta geração, que colocará o Brasil na fronteira da ciência.

O projeto foi aprovado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação em 2014 e colocado no Plano Plurianual, com verba alocada de R$ 1,3 bilhão, distribuída de 2015 a 2018. Considerado internacionalmente um dos três mais importantes projetos da ciência mundial da década está ameaçado de fracasso, devido a cortes indiscriminados e principalmente pela retenção de recursos já comprometidos.

Apenas 20% da verba de 2015 foi liberada. E com ele irão também os quatro laboratórios que constituem o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), para onde apenas 30% do montante de 2015 foram pagos, além da desmoralização da fórmula organização social, que é a esperança do pesquisador brasileiro consciente.

Corre-se o risco de ter de dispensar os 550 pesquisadores e técnicos e os 300 bolsistas que lá trabalham, e de não mais atender os 2.000 usuários de outras instituições que anualmente desenvolvem seus projetos nos laboratórios abertos do CNPEM, além de mais de 30 projetos que serão interrompidos.

Este será um crime tão sério quanto os desvendados pela Lava-jato, pois compromete o futuro do país.

FSP: 04/01/2016.

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