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Por Antonio Lassance

Já vimos esse filme.

A segunda presidência Dilma enfrenta um conjunto de problemas muito similares ao que Lula enfrentou quando assumiu seu primeiro mandato, em 2003.

Lula tinha à sua frente uma inflação em alta – maior que a atual. Aplicou uma política monetária ortodoxíssima, bem mais conservadora do que Dilma acaba de baixar.

A situação do Brasil era – tomando emprestada a expressão de um editorial de Carta Maior – de completo atoleiro econômico e também político.

No PT e, mais ainda, nos movimentos sociais, houve choque e decepção com ações que foram consideradas uma traição ao programa e à história do Partido.

Lula trouxe um ex-representante de um banco internacional e deputado recém-eleito pelo PSDB, Henrique Meirelles, para ser o presidente do Banco Central. Encaminhou uma reforma da Previdência Social que deixou o sindicalismo, principalmente o cutista, atônito.

As dificuldades de Lula com o PMDB pareciam intransponíveis. O PMDB chegou a ficar de fora da primeira composição ministerial e era uma fonte constante de atritos com o Planalto.

A tentativa de trazer o partido para o Governo, na reforma ministerial de 2004, selou as pazes apenas com os peemedebistas do Senado.

O PMDB da Câmara estava e permaneceu em pé de guerra. Curiosamente, o líder da resistência era o deputado Michel Temer, vice-presidente da República de Dilma e, hoje, principal bombeiro da relação entre PMDB e PT. Temer chegou a ameaçar de expulsão os peemedebistas que desacatassem a orientação partidária e fossem compor o governo.

Se o início do governo não foi um mar de rosas, depois ficou muito pior. Em 2005, Lula seria ameaçado por um grande escândalo. As acusações do chamado mensalão abalariam as bases políticas de sua presidência e ameaçariam seu mandato. O fantasma do impeachment era real e imediato.

O presidente, àquela época, foi posto em uma situação de cerco da oposição midiático-partidária muito parecido com o que se viu contra Dilma, durante a campanha eleitoral de 2014, e que tende a persistir ao longo de seu mandato.

Ou seja, alguns dos riscos que Dilma enfrenta atualmente são muito similares ao que Lula enfrentou de 2003 e até o final de seu mandato.

As diferenças entre as duas presidências, porém, não são nada triviais. O cenário internacional é bastante diferente e desfavorável. Os riscos da crise hídrica são novos e ninguém ainda sabe como tratá-los, nem o Governo Federal, nem os estaduais. O “modo dilmista de governar”, bem distinto do padrão lulista, ainda não parece ter mudado substancialmente. E a comunicação de ambos é muito, mas muito diferente mesmo.

Mas isso já é assunto para uma próxima análise.

Publicado por Carta Maior (27/01/2015)

Antonio Lassance. Cientista político.


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