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“O governo perdeu o controle da opinião pública”, afirma o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino. “Menos de 80 dias depois de assumir seu segundo mandato, Dilma Rousseff era reprovada por 62% dos eleitores, de acordo com pesquisa que o instituto divulgou na quarta-feira”, dia 18. “Nos últimos 30 anos de vida democrática do Brasil não há registro de outro instante em que a opinião pública tenha nocauteado, com tamanha força e rapidez, a popularidade do presidente da República. ‘É um momento histórico’, diz Paulino”. (Valor Econômico, 20/3/15).

Foi acentuada a queda na taxa de aprovação do governo Dilma Rousseff (a soma de ‘Ótimo’+’Bom’ em dezembro era 42%, caiu em fevereiro para 23% e desabou em março: 13%), informou o instituto Datafolha; o índice de reprovação (‘Ruim’+’Péssimo’) subiu de 24% para 44% e depois bateu em 62%, no período. “Neste momento, o governo federal perdeu o controle da opinião pública, não consegue responder de maneira adequada àqueles que representa”, concluiu Mauro Paulino.

O feio retrato é o reflexo — junto à opinião pública — da combinação de crises que se arrastam desde junho de 2013. Há a insatisfação popular com as denúncias do gigantesco escândalo de corrupção na Petrobras (a Operação Lava Jato); há os reclamos contra o tarifaço de 2015 e a respeito das medidas de ajuste fiscal (que estão sendo anunciadas desde o final do ano de 2014); há o descontentamento dos usuários das políticas públicas de mobilidade urbana e de saúde; há a rejeição política ao petismo, regionalmente segmentada e concentrada no Sul-Sudeste do Pais (fato registrado nas urnas de outubro de 2014). E a mídia, jogando pesado na oposição, há muito aposta no acirramento destes conflitos, enquanto vai consolidando uma má imagem de políticos e de autoridades federais.

Esta problemática foi o substrato dos massivos protestos antigovernamentais que aconteceram neste mês de março. E que repercutiram nos resultados da pesquisa do Datafolha.

O instituto Datafolha aplicou a pesquisa de campo em 16 e 17/3/2015. E também pode constatar que a maioria dos entrevistados está muito pessimista. Os brasileiros creem que nos próximos meses :

o desemprego irá aumentar (é a expectativa de 69% do universo da amostra da enquete);

o poder de compra dos salários deverá diminuir (segundo 60% dos pesquisados);

a inflação irá aumentar (para 77% dos participantes do levantamento);

a situação da economia do país irá piorar (pensam 60% dos entrevistados).

Os resultados da pesquisa Datafolha foram ratificados pelo levantamento da Confederação Nacional dos Transportes, divulgado em 23/03, onde apenas 10,8% dos entrevistados avaliam positivamente o governo. Vale destacar que essa pesquisa também foi realizada logo após os protestos de 15/03.

Desde a nova posse de Dilma Rousseff, em 1/1/2015, o panorama econômico é instável (a desvalorização rápida e acelerada do real é um dos indicadores) e números recentes da economia brasileira tendem a referendar o baixo astral dos brasileiros. O mercado formal de trabalho cortou mais de oitenta mil postos de trabalho, no primeiro bimestre do ano (janeiro-fevereiro); o preço da cesta básica paulistana subiu 7% (R$ 380,00), no período; a inflação oficial (IPCA) acumulada no bimestre foi de 2,5%; e o IBC-Br (estimativa do Bacen para a evolução do PIB) registrou em janeiro o segundo mês seguido de retração, com: queda mensal de 0,11%; encolhimento anual de 1,34%; e retração acumulada de 0,39% em 12 meses.

Os danos não param por aí. O viés de baixa das expectativas da população brasileira também se espraiou para o tema da preferência partidária, atingindo o Partido dos Trabalhadores. O PT, em enquete anterior do Datafolha (realizada em 8/12/2014) era a legenda preferida por 22% dos entrevistados; mas em março de 2015 esta opção foi reduzida à menos da metade (9%).

Também em 23/03 foi divulgado, pela agência de classificação de risco Standart & Poor’s (S&P), que as notas do Brasil, crédito de dívida em moeda estrangeira de longo prazo e de moeda nacional de longo prazo, foram mantidas, o que quer dizer que o País conseguiu manter o chamado grau de investimento pela agência considerada mais importante pelo mercado. Isso significa a melhor notícia que o governo recebeu desde sua posse e recompensou a guinada de austeridade dada pela política econômica oficial nesses primeiros três meses de governo.

Apesar desse “alívio” ante este quadro crítico, todos recomendam aos dirigentes governamentais que reorientem as alianças políticas postas em prática inclusive com uma reforma ministerial qualitativa. E aos demais militantes do governismo restaria agir (no seu campo de influência), torcer a favor (muito!) e esperar (mesmo contra toda a Esperança…).


Créditos de imagem: luciointhesky.files.wordpress.com

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