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Por Júnia Gama

Escolhido para comandar o Ministério da Educação no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, o governador do Ceará, Cid Gomes, defende que nos próximos quatro anos seja feita uma revisão dos currículos no ensino médio que possibilite ao aluno se aprofundar nas áreas com as quais tenha mais afinidades. Cid acredita que os estudantes não devem ser obrigados a ter conhecimento sobre todas as áreas, como é atualmente.

Se o jovem tem vocação mais para a área tecnológica, aprofundar matemática, física; se tem vocação mais para a área de humanas, poder ter sociologia, filosofia. Não forçar todos a terem tudo, como é hoje, que se obriga todos os alunos do ensino médio a terem conhecimento sobre todas as áreas. Como é uma novidade, vai de encontro à tradição de pelo menos 40 anos no país, deve ser precedido de uma grande discussão, vamos ouvir experiências de outros países, tem diversos modelos, mas acho que é possível mudar em quatro anos — disse ao Globo.

Cid diz saber da necessidade de mais recursos para a Educação, mas acredita que as providências que podem ser tomadas o estão senado feitas pelo Congresso Nacional – como o aumento do percentual do PIB para a área – e diz que quer redefinir prioridades no financiamento educacional.

Em qualquer área precisaria de mais recursos, mas tem que ter os pés no chão e fazer com o que tem — afirma.

Sobre o salário dos professores, ressalta que irá procurar agir “como magistrado”, sem tomar parte dos professores – que reconhece são “muito mal” remunerados –, mas com consciência das limitações. Indica que mudanças ocorrerão apenas a partir da previsão legal de reajuste, sem sinalizações a respeito de aumentos mais significativos para a categoria.

O futuro ministro da Educação acredita que atacar o problema nos primeiros anos de ensino seja um caminho para melhorar sua qualidade, mas afirma também que o ensino médio “enciclopedista” desmotiva e provoca evasão.

Cid Gomes pretende ter planos diferenciados para melhorar o ensino nas áreas onde os indicadores são piores, como Nordeste, Norte e alguns centros urbanos. Defende que o foco deve ser onde se concentra a pobreza e que um caminho será ampliar a oferta de escolas de tempo integral para evitar o contato de jovens com drogas.

Não é razoável que se trate desiguais igualmente. Há questão regional no país, o Nordeste e Norte têm os piores indicadores e isso está muito associado à pobreza — diz.

Sobre o Enem, defende que é um caminho “irreversível” para o acesso ao ensino superior, mas que, no futuro, os exames ocorram a partir de um grande banco de dados com questões que possam ser feitas a qualquer tempo, em diferentes locais, “como as provas de legislação de trânsito”.

O que pode acontecer no futuro, desde que se tenha um grande banco de perguntas, com 100 mil questões, 10 mil de cada uma das matérias é, aleatoriamente, um computador submeter um aluno a uma prova a qualquer momento, em qualquer lugar. Não sei quanto tempo demorará, mas é razoável que a gente use as tecnologias existentes — defende.

Cid Gomes diz querer reduzir a periodicidade do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), para fazer avaliações anuais e, periodicamente, realizar amostragem para corrigir rumos ao longo do ano. O cearense afirma que o desafio no ensino superior é de qualidade e defende a “integração com as necessidades do país”, aproximando universidades com a sociedade, meio empresarial e entes administrativos. Quer usar um sistema de meta e avaliação para evitar que as pessoas estejam “comprando gato por lebre” em cursos de má qualidade.

Afirma que, no governo federal, irá procurar se aproximar mais dos gestores locais de Educação, mas sem mudanças específicas na legislação a respeito da responsabilidade de cada ente. Sobre as cotas nas universidades, diz que “o ideal” é chegar ao ponto de não serem necessárias, mas que, enquanto isso não ocorre, “é razoável” que existam.

Apesar da ausência de currículo em Educação, o governador acredita que o governo do estado lhe deu experiência na área e que um dos principais aprendizados foi o programa de meta específica de alfabetização na hora certa. Evita queixar-se de sua relação com o MEC como governador, afirmando que sempre foi atendido porque levou projetos novos e não ficava pedindo apenas o “feijão com arroz”.

Sobre sua indicação para o ministério, diz que não está na cota de partidos:

O PROS tem 11 deputados, certamente não foi pela representatividade do PROS que fui para o Ministério. Há muita gente açodada que me classifica como um político, sou governador há 8 anos, fui deputado, prefeito, mas procuro ser gestor. Tenho atenções especiais e sempre tive pela educação e a presidente reconhece isso em mim. Para ser ministro, a gente precisa é de gestores que tenham capacidade de ouvir, de se cercar de bons técnicos e implementar as boas ideias — diz.


Publicado no jornal O Globo:
http://glo.bo/13Fe8En

Júnia Gama. Jornalista.


Crédito de imagem: og.infg.com.br

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