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Faltando cerca de quarenta dias para o encerramento deste primeiro mandato presidencial de Dilma Rousseff, é evidente a dificuldade que o governo enfrenta para determinar a agenda política nacional.

As ações políticas têm sido reativas, pautadas pelo mercado financeiro, pelos outros dois poderes (Legislativo e Judiciário), pela imprensa e mesmo por segmentos do serviço público federal que operam com certa autonomia – como a Polícia Federal e o Ministério Público.

Sob pressão de fatos novos — como a recente prisão de burocratas da Petrobras e de dirigentes de grandes empreiteiras — o governo federal demorou algum tempo para responder à altura dos desafios colocados pela conjuntura.

Assim, desde o final de outubro, o noticiário cotidiano foi sendo ocupado por notas negativas na economia (emprego, câmbio, preços, transações correntes, questão fiscal, bolsa de valores), sempre apresentadas com grande destaque pela grande imprensa conservadora, que continua indicando a existência de apenas um caminho para a retomada do crescimento econômico, ou seja, adoção de um programa de austeridade econômica onde predominam medidas de impacto na área fiscal (redução de gastos públicos), monetária (alta dos juros) e na questão do aumento da produtividade, que é um eufemismo para arrocho de salários.

Já o governo, através de sua principal porta voz, a Presidente da República, continua insistindo que não adotará medidas que penalizem tanto a renda como o emprego e reafirmou, em entrevista na Austrália (reunião do G 20), que a política econômica da nova equipe preservará a demanda, numa demonstração de que o caminho escolhido será de privilegiar o mercado interno, pois, a depender do cenário internacional com redução significativa dos níveis de comércio entre os países e queda do preço das commodities, a solução de austeridade aprofundará o quadro de estagnação da economia encaminhando o País para a recessão.

Na política (dificuldades na articulação da base governista no Congresso Nacional, tensões intragovernamentais – Marta Suplicy, Gilberto Carvalho, Guido Mantega, Lobão), na sociedade (atos públicos e um certo clima de insatisfação e pessimismo) a situação também apresenta alto nível de complexidade.

Para retomar as rédeas do processo, Dilma Rousseff precisa concatenar as tarefas de fim de gestão às demandas do futuro governo. A grande expectativa relaciona-se à definição da nova equipe econômica: o Valor Econômico especula que a Presidente deverá anunciar ministros (Fazenda e Planejamento) e dirigentes de bancos públicos (Banco Central, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) ainda em novembro.

Na pauta do Parlamento, o fim da meta de superávit fiscal para 2014 e a aprovação do Orçamento Geral da União de 2015.

A montagem final do ministério deverá se alongar pelo restante do Verão, pois a definição de nomes depende do desenrolar da crise da Petrobras e das articulações políticas para a eleição das duas Mesas do Parlamento.

Fica a dúvida se, diante de um quadro de dificuldades políticas como o que atravessamos, será possível ao governo continuar adotando medidas de política econômica anticíclicas.


Créditos de imagem: asboasnovas.com

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