Em Destaques, Sem papas na língua

Andam, as más línguas, dizendo por aí que Dilma mentiu. É uma acusação séria. Quase tão séria quanto dizer-se que alguém, um (pseudo)intelectual, mandou que se esquecessem tudo que havia escrito antes. Será que era mentira tudo que tinha escrito antes? Se fosse verdade não precisaria apagar, não é? Mas o que significa essa palavrinha tão ofensiva: “mentira”? Dizemos que alguém mentiu quando ele conhecia a verdade e a negou afirmando outra versão. Ora, ninguém exceto Deus e os videntes conhecem o futuro. Então ninguém racional é capaz de mentir sobre o futuro. Podemos pois concluir que quem quer que seja que afirme que a Presidente mentiu sobre o futuro, ou não sabe o mínimo de português, ou é ele mesmo um mentiroso de má fé.

Recorramos agora ao glorioso sambista Adoniran. Diz ele:

“O Arnesto me aconvidou, prum samba, ele mora no Braz.

Nois fumo e num incontremo ninguém,

Fiquemo cuma baita duma reiva,

Doutra vez nois num vai mais,

Nois num semo tatu.”

Diria o lobo da fábula de Esopo: “Então se Dilma não mentiu, pelo menos deixou de cumprir uma promessa”, o que seria uma falta grave, como a do Arnesto, que não compareceu ao samba. Mas, e se o Arnesto tivesse quebrado a perna? Ou melhor, se as condições tivessem mudado? Acusam a Dilma de mentirosa porque prometeu que não alteraria os direitos trabalhistas e no entanto ampliou o período necessário para receber o seguro desemprego. Ora, todo mundo sabe que este benefício é frequentemente usado por trabalhadores e empresários desonestos para ampliar seus ganhos, sugando os cofres públicos. Também é óbvio que a redução da malandragem com o seguro desemprego preserva recursos públicos, o que é de interesse do trabalhador e dos empresários honestos.

Dilma também teria omitido mencionar a imprevisível degradação da realidade econômica e posteriormente proposto o retorno da CPMF, o imposto sobre o cheque. Ora, o Arnesto quebrou a perna. Alguém teria o direito de acusá-lo de não ter podido ir ao samba? A arrecadação caiu vertiginosamente. A CPMF permitiria justamente a presidente manter suas promessas para com a população. É a elite, não a elite intelectual, mas a elite pecuniária, que teme a CPMF, porque este imposto ameaça principalmente os endinheirados, pois revela os fluxos de dinheiro, e isso é muito comprometedor. Eis porque os fantoches da Globo e de outras emissoras assim como colunistas da Folha e os editoriais do Estadão a serviço de banqueiros e rentistas, acusam a presidente Dilma de mentirosa. E os apoucados da pequena burguesia acreditam. Não é surpreendente?


Imagem: Orlandeli

 

Facebooktwitter