Em Destaques, Sem papas na língua

A questão não é se o petróleo acaba ou não, mas antes quando acaba. A controvérsia sobre o “pico” da produção de petróleo, em torno dos estudos de Kjell Aleklett não é senão uma repetição da polémica em torno do patamar (top) de Colin Campbell (1998), que em realidade não é senão a mesma teoria que aquela de 1956 de Hubbard para o petróleo americano. E aproveito a ocasião para lembrar que há mais que dez anos venho insistindo que a produção de petróleo convencional no Brasil deveria atingir seu pico por volta de 2010 e que é o que já aconteceu. E para chegar a esta conclusão basta bom senso.

O petróleo mundial também já atingiu seu pico e está em declínio, apesar das Agências Internacionais do setor tentarem ocultar o fato como tem mencionado Aleklett e outros especialistas. A finalidade desta comunicação é explicar como isto está sendo feito. Inspiro-me na longa entrevista dada por Aleklett para o “European Energy Review”.

As previsões de Campbell e Laherrere de 1998 eram de que a produção do petróleo chegaria em breve ou já teria chegado. E de fato este pico foi de 70 milhões de barris e nunca ultrapassou este valor. O que aconteceu então e acontece ainda hoje é que formas não convencionais de petróleo são incluídas sorrateiramente nas estatísticas. Um bom exemplo é o caso da Arábia Saudita, que há pelo menos 15 anos vem se valendo de tecnologias diversas de extração para “forçar” a produção de postos em declínio.

Mesmo o Brasil com sua extração de águas profundas vem contribuindo, embora modestamente, para o deslocamento do pico de produção do petróleo global. Mais recentemente a produção de óleo cru e gás natural a partir de areias betuminosas (“tar sands”) no Canada e na Venezuela e do xisto (“shale”) dos EUA vem também servindo para prolongar a vida do petróleo, como aliás também o fazem o gás natural e o etanol.

Aleklett acaba de realizar um longo estudo sobre as reservas americanas de xisto e conclui que estarão em declínio já em 2020. Portanto, por mais que isto possa incomodar às grandes petrolíferas e certos governos é bom que a humanidade comece a se preparar para uma economia e uma vida quotidiana com limitações de combustíveis líquidos. O mesmo acontecerá com o Brasil, pois se as reservas do pré-sal forem de apenas 15 bilhões de barris como atualmente inferidas não durarão mais que 15 anos, uma vez que as demais reservas estão em acelerado declínio, como se pode deduzir dos dados da própria Petrobrás. O Brasil estará em situação precária se continuar a sufocar a produção de etanol e não socorrer a indústria alcooleira prontamente.

Créditos de imagem: oei.es

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