Em Conjuntura Internacional, Destaques

Por Mário Augusto Jakobskind

A mídia nacional e latino-americana de um modo geral cobriu a VII Cúpula das Américas, realizada recentemente no Panamá, de forma totalmente manipulada. O Presidente dos Estados Unidos foi apresentado como uma figura “muito boazinha” e “disposta ao diálogo”. Já o Presidente da Venezuela foi mencionado o tempo todo como “criador de caso” e “radical”.

O resultado final do encontro entrou em choque com o que foi dito o tempo todo. O governo dos Estados Unidos saiu derrotado, porque a maioria absoluta dos países participantes condenou o decreto do Executivo norte-americano colocando a Venezuela como “país perigoso” para Washington.

Nesta história toda as publicações integrantes do chamado grupo Diário das Américas cobriram a VII Cúpula da mesma forma que os jornalões destas bandas. Houve, de fato, uma demonstração de subserviência ao desejo do Departamento de Estado norte-americano de condenar a Venezuela.

Uma pergunta óbvia: como pode um governo tentar se apresentar ou ser apresentado como “novo” ou “bonzinho” e ao mesmo tempo persistir com o decreto acusando a Venezuela como “perigosa” para os EUA? A novidade mesmo, que não houve, seria a revogação do decreto, como pediram representantes dos países participantes do encontro.

Enquanto deram grande espaço a Obama, o discurso de Maduro foi quase todo ignorado. Os espaços midiáticos conservadores não quiseram veicular, por exemplo, pelo menos o trecho do discurso do dirigente venezuelano assinalando que ao contrário dos Estados Unidos, a Venezuela nunca invadiu ou ocupou algum país, não podendo por isso ser considerado “perigoso” para quem quer que seja.

Para alguns pode parecer exagero ou mesmo teoria da conspiração a abordagem desse tema, mas não, até porque, a partir do que foi apresentado ao público latino-americano – leitor, ouvinte e telespectador – vendendo a imagem de que agora os EUA mudaram o relacionamento com a América Latina, não se descarta a tentativa de que grupos políticos conservadores tentem ressuscitar certas iniciativas sepultadas ao longo do tempo.

Nesse caso pode ser lembrada a recente advertência feita pelo ex-Ministro Celso Amorim sobre uma nova ofensiva neoliberal para ressuscitar a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).

Em artigo publicado no site Carta Maior intitulado “As Hienas e os Vira-Latas”, Amorim exortou os intelectuais a se manifestarem nas ruas contra essa tentativa de ressuscitar a iniciativa sepultada em Mar Del Plata, na Argentina, em 2005, com a concordância de governos progressistas da região, entre os quais o brasileiro, uruguaio, venezuelano e o do próprio país anfitrião daquela Cúpula das Américas.

No artigo, Amorim manda o recado para os intelectuais exortando-os a se prepararem para o debate que “vai ser duro e não se dará somente nos salões acadêmicos ou nos corredores palacianos, terá que ir às ruas, às praças e às portas de fábrica”.

Ultimamente, jornalões como O Globo divulgam com insistência editoriais defendendo uma reaproximação do Brasil com os Estados Unidos, algo, por sinal, que a publicação sempre defendeu ao longo de sua história.

Mas ligando os fios, a cobertura da VII Cúpula das Américas e os agora sucessivos editoriais enaltecendo a reaproximação, pode-se entender ainda melhor a advertência de Celso Amorim.

Por estas e muitas outras, todo cuidado é pouco, porque os espaços midiáticos conservadores da região não vão desistir tão cedo da ideia de ressuscitar a ALCA.
E se bobear, em alguma das manifestações convocadas, entre outros grupos, pelo Vem pra Rua serão vistos cartazes defendendo a ALCA. Se foram apresentados cartazes exortando a privatização da Petrobras e até o retorno dos militares, porque seria surpresa que a patota capitaneada pelo empresário Rogério Chequer promovesse cartazes favoráveis ao retorno da ALCA?

Mário Augusto Jakobskind. Jornalista e Escritor.


Créditos de imagem: dinheirama.com

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